Inspecção a casos de sarampo no hospital de Cascais foi arquivada

Inspecção da Saúde concluiu que hospital foi eficaz a controlar a "infecção hospitalar". Casos de sarampo aconteceram na Primavera de 2017. Uma adolescente, não vacinada, acabou por morrer.

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Paulo Pimenta

Depois de averiguar, ao longo de quase meio ano, as circunstâncias em que ocorreram vários casos de contágio de sarampo no Hospital de Cascais, um dos quais fatal, a Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS) mandou arquivar o processo, por considerar que houve “articulação entre os vários serviços e o envolvimento próximo das chefias” e que a unidade de saúde deu “uma resposta eficaz no domínio da infecção hospitalar”.

Em 21 de Abril de 2017, o ministro da Saúde anunciou que a IGAS ia averiguar o que aconteceu naquele hospital, depois de um bebé doente ter contaminado cinco funcionários e profissionais de saúde. Uma jovem de 17 anos que esteve internada no hospital e que não estava vacinada contraiu a doença e acabou por morrer com uma pneumonia bilateral. A morte da jovem foi a primeira, em muitos anos, causada pelo sarampo e desencadeou um aceso debate sobre a importância da vacinação contra esta doença de elevada contagiosidade.

A IGAS limitou-se a afirmar que comunicou o arquivamento do processo de inspecção à tutela em Outubro passado, sem adiantar os motivos. Foi o gabinete do ministro da Saúde que enviou ao PÚBLICO uma síntese das conclusões do relatório da inspecção sobre “a verificação dos mecanismos implementados na sequência da actividade epidémica de sarampo” em Cascais.

Cumpridas as "orientações"

As conclusões são pouco elucidativas: além de destacar a articulação entre os serviços do hospital, a IGAS sublinha que a “comunicação com as entidades externas” funcionou prontamente e “de modo ágil”. O arquivamento justifica-se ainda porque se concluiu que foram “aplicadas as normas da Direcção-Geral da Saúde e desenvolvidos os procedimentos de controlo interno relativos à matéria de infecção hospitalar” e foram cumpridas as “orientações sobre a prevenção e combate” a este problema.

O que não se percebe é se a IGAS tentou averiguar as circunstâncias em que o contágio ocorreu e o tempo que terá demorado o diagnóstico. A adolescente não estava imunizada contra a doença porque, segundo a família explicou aos médicos do hospital, tivera "uma reacção alérgica grave" a outra vacina em criança.

A jovem ficou internada depois de lhe ter sido diagnosticada mononucleose, entre 26 e 29 de Março, período durante o qual terá sido contagiada com sarampo através de um bebé de 13 meses também não vacinado devido a um atraso por razões clínicas, segundo revelou então a directora do hospital. Teve alta, mas a 13 de Abril voltou à unidade de Cascais. O agravamento do seu estado de saúde determinou a transferência para o Hospital de Dona Estefânia, onde morreu.

Segundo o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC na sigla em inglês), entre Dezembro de 2016 e Novembro de 2017, foram registados 34 casos de sarampo em Portugal. Em todos os países da União Europeia, neste mesmo período, foram notificados 8638 casos, sobretudo em Itália e na Roménia. Registaram-se 23 mortes na Roménia, quatro em Itália e duas na Grécia. 

O sarampo é uma doença muito contagiosa, que habitualmente é benigna, mas pode ter consequências mais graves. A vacinação é a única forma de prevenção, mas está também imunizado quem já teve a doença.

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