Os conflitos nos gestos das nossas mães

Um projecto do programa Europa Criativa liderado por Portugal usa a cultura e a criatividade para nos ensinar como passar do conflito ao convívio em tempos de Brexit e de refugiados.

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Um dos workshops de Aimée Zito Lema, com os alunos do liceu Filipa de Lencastre, em Lisboa

A artista visual Aimée Zito Lema está quase a ir embora. Antes, porém, vamos poder ouvi-la conversar com a curadora Isabel Carlos para explicar este sábado, numa sessão que começa às 16h30, o que fez durante um mês no espaço da Rua das Gaivotas 6, em Lisboa, onde esteve em residência artística desde o início de 2018. Um mês para esta argentina que vive em Amesterdão ou para esta holandesa nascida na Argentina, no ano de 1982, investigar como a memória se transmite entre gerações através da memória material, naturalmente, mas também do corpo.

Quais são os gestos que herdamos? “Será que as memórias das nossas mães e avós passam para nós através dos gestos, do corpo?”, pergunta-nos Luísa Santos, a coordenadora-geral portuguesa deste projecto europeu, que conseguiu um financiamento de 1,8 milhões de euros da Comissão Europeia através do programa Europa Criativa, ao explicar ao Ípsilon o trabalho da artista em Lisboa, que passou por uma colaboração com o Teatro Praga e o Grupo de Teatro do Oprimido, através de workshops com estudantes de escolas secundárias e filhos de imigrantes de antigas colónias portuguesas.

Liderado pela Universidade Católica Portuguesa, o projecto 4Cs envolve universidades, museus, fundações ou associações de oito países europeus (Suécia, Alemanha, Reino Unido, Espanha, Lituânia, Dinamarca e França, além de Portugal) e o nome diz ao que vem: 4Cs, do Conflito à Convivialidade através da Criatividade e Cultura. “Não foi agora que Aimée começou a trabalhar como a memória, o registo, o conflito e os traumas que passam de geração em geração”, numa mistura de investigação e prática artística que procura questionar o papel do corpo enquanto agente de transformação e de entendimento de histórias sociais, explica Luísa Santos, também curadora em Portugal da exposição que Aimée Zito Lema vai apresentar em Junho num Project Room na Fundação Gulbenkian, juntamente com Ana Cachola e Daniela Agostinho.

Além dos workshops, que foram registados em filme, a artista fez várias entrevistas a investigadores, como a Lars Jensen, que se debruça sobre memória e epigenética imunológica no Instituto Gulbenkian de Ciência, ou a Isabel Capeloa Gil, reitora da Católica, que investiga temas como a memória colonial ou o Holocausto. Em Junho, com uma inauguração prevista para o dia 24, Aimée Zito Lema vai mostrar na Gulbenkian serigrafias que podem atingir os dois metros, revelando ou escondendo imagens – memórias – do que se passou na residência artística.

Este é apenas um dos oito capítulos da exposição, cujo primeiro momento decorre até ao final de Janeiro no Tensta Konsthall, em Estocolmo, num projecto artístico em que o londrino Christopher Kulendran Thomas procura criar uma start-up capaz de tornar as casas tão transmissíveis como a música e os filmes, já antecipado na Bienal de Berlim.

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