Cartas ao director

As Mulheres na Igreja Católica

Seria néscio da minha parte tentar entrar em polémica com o Frei Bento Domingues, por quem tenho respeito e admiração, mas o seu texto de 14/1/2018, no PÚBLICO, suscitou-me esta reflexão.
Desde já, e é, para mim, uma questão assente e definitiva, de que a Mulher e o Homem devem ter igual capacidade no acesso e prática religiosa, aliás, como o Papa Francisco registou na sua Alegria no Evangelho, p. 75 "As reivindicações dos legítimos direitos das mulheres, a partir da firme convicção de que homens e mulheres têm a mesma dignidade, colocam à Igreja questões profundas que a desafiam e não se podem iludir superficialmente". Também no livro A Felicidade nesta vida, o Papa Francisco diz que "Uma Igreja sem as mulheres é como o Colégio Apostólico sem Maria [...] ainda é preciso ampliar os espaços para uma presença feminina mas incisiva na Igreja" (pp. 131-132)
Contudo, ao ler a Bíblia Sagrada, Difusora Bíblica (Franciscanos Capuchinhos), 1996, verifico que em vários livros a Mulher é secundarizada e mesmo denegrida.
Assim, e para ilustrar, algumas esparsas citações. No Livro Ecl, 7,28 lemos "Há uma coisa que eu contínuo ainda a tentar compreender mas não consegui. É que entre mil homens descobri um autêntico e nem uma mulher entre as que vi". Em Sir 42,14 está "Menos dano te causará a malvadez de um homem do que a bondade da mulher". Em 1Tm 2,11 determina-se que "Durante a instrução, as mulheres devem ficar em silêncio e ouvir com humildade". Em 1Cor 14,34 diz que "As mulheres não devem tomar a palavra nas reuniões da comunidade. Não convém que elas falem em público". Em 1Tm refere que "As mulheres que servem na igreja devem ser igualmente dignas; não devem ser murmuradoras, mas pessoas de bom senso e fiéis em tudo". Em Tt 2,3 "Aconselha também as mulheres idosas a comportarem-se como pessoas que levam uma vida santa. Que não sejam caluniadoras nem muito dadas ao vinho".
Então, questiono, por estas citações, não será necessário fazer uma outra leitura da Bíblia e, ouso aditar, uma nova redacção daqueles textos, que dão uma visão misógina, portanto contra as novas interpretações e desejos, tanto do Papa Francisco como do Frei Bento Domingues e tantos de nós que pugnamos por uma efectiva igualdade a todos os níveis entre homens e mulheres?
E, a propósito deste natural anseio, também o mesmo PÚBLICO de 14/1/2018, refere e realça a importância da Mulher na vida religiosa, através da reportagem de Margarida David Cardoso - Ou Rosa dava a 'missa' ou a igreja fechava -, onde refere situações que viveu em Reguengos de Monsaraz. A propósito, uma prima minha, também na região do Alto Ceira, desempenha igual e importante papel. Registo igualmente o editorial de Lurdes Ferreira (há quanto tempo não lia um editorial escrito por uma jornalista!), também sobre a participação, cada vez maior, dos leigos na Igreja Católica.
Por fim, reitero, não será que temos de reinventar uma nova leitura da Bíblia?

José P. Costa, Lisboa

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