Rio mostrou “truques”, Santana duvidou do economista

No debate da TVI, o ex-primeiro-ministro sugeriu que a posição do adversário sobre a Procuradora-Geral da República foi "aproveitada" pelo primeiro-ministro

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Foi já na recta final do debate desta quarta-feira na TVI que Pedro Santana Lopes começou a disparar contra Rui Rio, apontando dúvidas sobre o modelo económico-financeiro que este defende para o país. “És como o Governo, tens duas versões”, atirou várias vezes o ex-primeiro-ministro, tantas que o antigo autarca do Porto foi obrigado a puxar dos galões de economista: “Se há coisa que sei é como devem ser as finanças públicas”.

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Foi já na recta final do debate desta quarta-feira na TVI que Pedro Santana Lopes começou a disparar contra Rui Rio, apontando dúvidas sobre o modelo económico-financeiro que este defende para o país. “És como o Governo, tens duas versões”, atirou várias vezes o ex-primeiro-ministro, tantas que o antigo autarca do Porto foi obrigado a puxar dos galões de economista: “Se há coisa que sei é como devem ser as finanças públicas”.

O duelo, do mais ideológico que houve durante o debate, aqueceu a propósito da estratégia após as legislativas. Santana Lopes admitiu, pela primeira vez, “conversar” sobre um eventual apoio a um Governo minoritário socialista. Rio acusou-o de dar o “voto útil ao PS” e “força ao BE e ao PCP”, se inviabilizasse um Governo nessas circunstâncias. Até então o debate foi morno e andou à volta do passado, do que disseram ou fizeram os dois candidatos à liderança do PSD. Novidade? Rio trazia e citou manchetes de jornais para neutralizar o adversário. Afinal, também sabe fazer “truques” como garantiu.

A estratégia dos dois candidatos sobre o pós-legislativas em cenário de derrota é um dos pontos que mais os dividem. Santana voltou a rejeitar acordos com o PS, mas disse admitir “conversar sobre o assunto”, desde que o PS volte a “provar que está de acordo” com a prática constitucional de deixar governar o partido mais votado. E exigiu uma regra escrita.

Num tom já azedo, Rui Rio contrariou. “Sabes o que vai acontecer: é votar útil no PS”, acusou. O ex-autarca do Porto usou então outro truque – Marcelo — para se defender. Lembrou que foi com Marcelo Rebelo de Sousa a líder do PSD que foi viabilizado o Governo minoritário de Guterres. Para Santana Lopes, a tese do seu adversário revela “falta de confiança” e lançou o que Rio disse ser uma frase feita: “Vieste para directas para derrotar Passos Coelho, eu vim para ganhar a António Costa”.

O debate arrancou pela campanha dos últimos dias em que foram publicados vídeos, de um e de outro candidato, com declarações incoerentes com as opiniões que manifestam hoje, sejam de um sobre o outro ou sobre Passos Coelho. Assumindo que não estava preparado para aquilo com que foi confrontado no debate da RTP, Rio mostrou a “afinação” prometida. E tirou da manga manchetes como “Santana arrasa Passos mas adia saída do PSD” para dizer que teve divergências com o Governo de Passos Coelho enquanto presidente da câmara, como “teve com outros”, e que nunca veio a público fazer “qualquer crítica”.

Aproveitou para se demarcar do primeiro-ministro António Costa, mas aí Santana Lopes voltou à carga e associou à proximidade de políticas entre os dois o caso da não renovação do mandato da procuradora-geral da República. É o “Dupond e Dupont” quando na semana seguinte ao debate a posição de Rio “é aproveitada” pelo primeiro-ministro, sugeriu Santana Lopes. Depois, mais à frente, quando confrontados com a não renovação do mandato de Joana Marques Vidal, ambos saudaram a nota desta quarta-feira do Presidente da República sobre o assunto. O ex-primeiro-ministro acabou por defender a renovação do mandato de Marques Vidal como “adequada”, mas Rio cumpriu o pedido de silêncio de Marcelo Rebelo de Sousa (o Presidente voltou a servir-lhe de protecção) e escusou-se a tomar uma posição.

Com o contexto do Governo de quatro meses liderado por Santana Lopes em 2004 (ficando depois como chefe de um Governo de gestão até às legislativas antecipadas) e depois de esclarecer declarações de apoio que fez então a esse Governo, Rio voltou a manifestar “sérias dúvidas” de que o povo julgue Santana credível, como candidato a primeiro-ministro.

A forma como o PSD vai enfrentar o PS em 2019 evidenciou outra diferença de discurso. Rio diz que não é impossível vencer Costa e lembra as “fragilidades” do Governo nos últimos meses, como as reveladas pela Protecção Civil com os incêndios, como os problemas do Serviço Nacional de Saúde ou “coisas escondidas no tapete”. Santana sublinha o outro lado: “Não digo que vamos ganhar só porque o PCP está mais distante [do Governo], mas porque acredito no projecto alternativo.”

A pouco mais de 15 minutos do fim, o tema era o crescimento económico, que parecia ser um objectivo consensual entre os dois. Mas foi aí que Santana Lopes tentou colocar em dúvida as posições de Rui Rio, criticando-o por não ter falado em crescimento, na apresentação da candidatura, mas antes em “défice zero”.

O economista ripostou: “Se há coisa que sei é como devem ser as finanças públicas”. Santana Lopes defende equilíbrio das contas públicas, mas pelo crescimento, não pelos cortes, e não poupou nos apartes: “Este Governo é como tu, é sempre a segunda versão”. Rio argumentou que “o défice equilibrado é condição necessária para o crescimento.” Santana ainda o provocou: “E não falas do imposto para pagar a dívida?” Rio disse que teria gosto em explicar, mas já não houve tempo.