Santana e Rio, de debate em debate a discutir cada vez menos ideias

Rio aprendeu a lição e mostrou os seus truques na TVI. Santana quis atirar para a frente, mas não resistiu a comentar o passado.

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O último debate foi na TVI
Rui Rio foi o primeiro a chegar à TVI
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Rui Rio foi o primeiro a chegar à TVI LUSA/ANTÓNIO COTRIM
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Santana chegou pouco depois de Rio LUSA/ANTÓNIO COTRIM

Seis dias depois do primeiro debate, na RTP, Rui Rio e Pedro Santana Lopes, os dois candidatos à liderança do PSD, enfrentaram-se na TVI. Entre os 513 mil telespectadores que assistiram ao primeiro duelo estavam muitos sociais-democratas e alguns deles pronunciaram-se sobre o que viram na segunda-feira: um combate ganho por Santana. 

Desta vez, foi precisamente Santana a começar a responder. Eis o debate, tema a tema:

Campanha negra

Judite de Sousa começou por perguntar porque é que os candidatos se tinham lançado numa campanha de ataques pessoais. Santana Lopes não respondeu. Preferiu explicar por que razões se candidatou. "O meu nome é este, assumo tudo o que fiz", repetiu. Confrontado com o facto de ter dito que Rui Rio tinha uma "visão paroquial" do país, acabou por explicar: "Depois de a ter dito, disse logo que não queria usar essa expressão". E corrigiu "paroquial" para "visão incorrecta e insuficiente na ambição para o crescimento do futuro e no estabelecer de uma agenda ambiciosa para o país". "Tradicional", acrescentou.

Já Rui Rio assumiu que não tinha ido preparado para um debate como o primeiro (desta vez preparou-se com várias manchetes sobre Santana crítico do Governo de Passos - "truques", chamou-lhe Santana), mas quis responder a duas críticas que lhe foram feitas no debate da RTP: o facto de não ter estado com Pedro Passos Coelho, de não o ter defendido; e de ser um "irmão gémeo" de Costa. "Tive algumas discordâncias como presidente da Câmara do Porto", reconheceu. "Mas nunca vim a público falei mal dele". Quanto à outra acusação, de ser muito parecido com António Costa, insistiu que não deve nada ao primeiro-ministro. "Nem ele a mim", disse. "Em lado nenhum me ouviu dizer que António Costa é o político mais hábil desde o 25 de Abril", disse Rio, citando mais uma notícia sobre Santana Lopes.

O passado persegue-os

Judite de Sousa, a pivot que moderou o debate, referiu então vídeos que correm na Internet sobre o passado dos candidatos, entre eles um em que Pedro Santana Lopes dizia que não seria candidato nem que o vento mudasse dez vezes. "Os ventos mudam bastante por causa das alterações climáticas", disse, tentando desviar-se do assunto. Introduziu a seguir o tema da procuradora-geral da República, insinuando que o Governo pegou num tema lançado por Rio Rio dias antes, no debate da RTP.

Também Rio foi questionado sobre um recuo: o facto de em 2004 ter apoiado Santana Lopes. "Se na altura eu, que era o 'número três', não o apoiasse, mais depressa o Presidente da República dissolvia o Parlamento", defendeu-se. "Em termos de lealdade, eu apoio o líder do partido. É esse o meu dever. Também tinha discordâncias, mas, se vinha para a praça pública criticar o Pedro", era pior. Rio explicou ainda que acha que "Santana terá muita dificuldade em convencer o povo português de que será melhor na segunda oportunidade" que teve do que na primeira.

Legislativas de 2019

Os candidatos levavam quase 20 minutos de debate e ainda não tinham apresentado uma única ideia para o país ou o partido. E sobravam só cinco minutos no Jornal das 8. Tempo de Judite de Sousa introduzir outro tema: "como é que o lider do PSD vai chegar a 2019 e ganhar as legislativas?"

Rio aproveitou para falar em como "este Governo governa à vista, quando o que é preciso é pensar no futuro". O Governo não está a cuidar da estrutura, disse, referindo temas como os incêndios ou a saúde, em que o Estado falhou. Santana concordou. "Mas eu digo que vamos ganhar, porque acredito no projecto alternativo que vamos criar", defendeu, referindo o caminho da inovação, da investigação, do crescimento. "O PPD/PSD é o maior partido de Portugal". 

Renovação do mandato de Joana Marques Vidal

A seguir ao intervalo, já na TVI24, Santana foi questionado sobre a renovação do mandato da Procuradora, mas considerou-o um "não assunto", como disse Marcelo Rebelo de Sousa. "O Ministério Público tem feito um trabalho que o tem levado a investigar pessoas normalmente intocáveis. Essa é uma realidade que não podemos ignorar. A apreciação global que faço é positiva", voltou a dizer, classificando este momento como "sensível" e passível de enfraquecer o poder de Joana Marques Vidal. "Apesar de não estar pevisto na Lei Fundamental a renovação do mandato, o que é um facto é que está escrito num acordo que o mandato é renovável de seis em seis anos".

Sobre o mesmo assunto, e defendendo-se até de ataques anteriores de Santana, Rui Rio disse que se revê em absoluto, a 100%, no Presidente da República e na nota emitida por Belém esta tarde. "Então vamos politizar este assunto a dez meses de distância?", questionou depois de se dizer surpreendido por lhe ter sido colocada essa questão na RTP. "Eu não estou satisfeito com o regime como um todo", concluiu, para concretizar que não está satisfeito com o sistema de Justiça.

Os resultados positivos

Perante os resultados positivos deste executivo, "porque é que os portugueses devem mudar de Governo?", perguntou a moderadora. Santana voltou a ser o primeiro a responder e lembrou que o crescimento, ao contrário do que diz o seu adversário, sempre foi o seu objectivo. "A política do orçamento é pouco amiga da capitalização das empresas", criticou. "São bons resultados", mas não estamos preparados para quando o quadro económico mudar (...). É uma governação para o presente", disse, lembrando que é preciso reforçar as exportações, produzir riqueza, etc.

Para Rio, "o objectivo de Portugal não é o défice zero, é o crescimento". O candidato rejeitou a crítica de Santana, que o acusou de não pensar no crescimento, e lembrou: "Se há coisas que digo há muito tempo, essa é uma delas. Vai ver as actas da Assembleia da República dos anos 80. Até chego a ser maçador". Nesta altura os dois sociais-democratas entraram numa conversa surda sobre Rio-nunca-dizer-exactamente-aquilo-que-quer-dizer que acabou com o ex-autarca do Porto a queixar-se: "Ó Judite, tem de se impor, se não ele não me deixa falar". Ele era Santana. "Mas porque é que não disseste nada disso na tua declaração de candidatura? Não falas no crescimento, nem no desenvolvimento", insistiu Santana Lopes.

O que fazer em caso de derrota nas legislativas

"A posição do PSD deve ser ir para eleições para ganhar", clarificou Rio. "Se perder, aquilo que eu entendo é que o PSD tem de ser coerente com o seu passado. Nós permitimos que o Governo do engenheiro Guterres tomasse posse. A mesma coisa fez o PSD em 2009, 2010 e 2011. Houve este passado que acho que está correcto. Se eu não conseguir o primeiro objectivo, que é ter maioria asbsoluta, nem o segundo, que é ganhar, quero o terceiro que é afastar a esquerda" do poder, acrescentou. Pela segunda vez no debate (depois do caso da PGR, o exemplo de Marcelo serviu para Rio neutralizar as críticas do concorrente).

Santana Lopes voltou a dizer-se contra o bloco central e defendeu a alternância entre PSD e PS. "Temos é de um dia de conversar sobre o assunto, mas tal como houve um acordo escrito para a PGR, então também tem de haver um para isto. Porque se essa regra fosse respeitada, então Passos Coelho era primeiro-ministro", explicou o ex-autarca de Lisboa, levando Rio a dizer-lhe que isso atiraria o PS para os braços da esquerda. "Tu vieste para afastar Passos Coelho e eu para afastar António Costa, é essa a grande diferença entre nós", concluiu Santana.

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