Cão atirado pela cerca está bem e pronto a ser adoptado

Organização Animal já apresentou queixa ao DIAP de Coimbra e apela à denúncia directa às autoridades e não à "justiça" das redes sociais.

Foto

Foi por “uma questão de minutos” que Pedro Simões, funcionário da Sourepatas – Associação de Defesa dos Animais de Soure, não estava presente no momento em que um cão foi atirado para o interior da vedação, com cerca de dois metros de altura, que pertence à associação. As imagens registadas nas câmaras de segurança foram partilhadas nas redes sociais por Pedro Simões e geraram uma onda de revolta e indignação com a publicação a contar mais de 12 mil partilhas. Em resposta, a associação Animal informou esta terça-feira que já apresentou uma denúncia ao DIAP de Coimbra, mas sublinha que “as redes sociais não deveriam ser o palco das denúncias”, insistindo que as mesmas devem ser apresentadas directamente às autoridades. O animal, que terá entre quatro a seis anos de idade, já recebeu assistência veterinária e está a recuperar na associação, pronto a ser adoptado.

O episódio de abandono, punido com pena de prisão até aos seis meses, de acordo a lei n.º 69/2014, aconteceu perto das 19h, no domingo, em Soure, Coimbra, num intervalo em que Pedro Simões foi tomar um café nas proximidades da associação, conta ao PÚBLICO. Consigo levou o telemóvel, por onde acompanhou as imagens que eram registadas pelas câmaras. Ao ver os cães agitados, regressou à associação e foi quando encontrou o animal já abandonado e ferido. 

“Quando cheguei vi o animal encostado à rede, já ferido, pela queda e pelos outros animais”, conta. “Os outros cães ficaram agitados e atacaram. É normal. É um instinto. É a mesma coisa que estarmos em casa, com tudo trancado e um desconhecido entrar. É claro que nos defendemos”, explica o funcionário da Sourepatas, justificando o comportamento dos outros animais, que se encontravam “soltos no recreio”.

Episódios semelhantes repetem-se

Este não é o primeiro episódio de abandono testemunhado por Pedro Simões. Só nos últimos oito meses, é pelo menos já o terceiro caso em que a forma como os animais são abandonados os coloca em perigo de vida. “Dois animais foram lançados mesmo para dentro dos tanques da ETAR [contíguos à associação], mas esses tinham chip [de identificação]. Estava a chegar quando ouvi ganir”, conta Pedro Simões. O episódio aconteceu “há cerca de oito meses” e para chegar aos tanques, a pessoa – ou pessoas – que abandonaram os animais, tiveram de passar por duas redes. “Deixaram as crias num caixote, mas quiseram ver-se livres dos animais com chip.” Em Agosto, um outro caso. “Novamente, foi por uma questão de minutos que o animal sobreviveu. Uma cadela foi presa à vedação, enrolada a uma fita amarrada a um ponto muito alto. Ao andar à roda, o animal foi ficando cada vez mais preso e a fita cada vez mais curta. Quando cheguei estava já pendurado pelo pescoço e com as patas a raspar o muro”, conta.

“Já fizemos queixas na polícia, mas às tantas acaba por ser só para estatística porque, até mesmo quando existem dados concretos, nada acontece. E por isso deixamos de o fazer. Quando se trata só de dar ocorrências e não podemos fazer uma denúncia concreta optamos por já nem fazer”, confessa desmotivado. “Mas a nossa intenção é melhorar a resolução das imagens recolhidas e identificar os responsáveis”, para que possa ser apresentada uma queixa com dados de identificação concretos. Por esta altura, pelo menos o vizinho já saberá de quem se trata. Há sempre alguém que sabe, mas nunca ninguém fala, nunca ninguém quer problemas”, nota Pedro Simões. O funcionário da Sourepatas recorda que existe já uma denúncia apresentada pela organização Animal, que partilhou um comunicado na sua página de Facebook.

“Informamos que, durante o dia de hoje [terça-feira], procedemos à denúncia ao DIAP de Coimbra, pedindo às/aos Magistradas/os para que accionem todos os mecanismos necessários e urgentes para chegar até à pessoa que cometeu tal acto." Na mesma publicação, a organização apela para que as denúncias sejam feitas directamente às autoridades responsáveis e não nas redes sociais. “Compreendemos perfeitamente a vossa indignação, uma vez que lidamos com estes casos e estas denúncias diariamente, mas reforçamos a importância de comunicar os casos às autoridades que, de acordo com o estabelecido na lei, têm competência/obrigação legal para investigarem e levarem os casos por diante”, nota.

"A atitude 'justiceira' não costuma ajudar muito, sendo que, algumas vezes até atrapalha. As redes sociais não deveriam ser o palco das denúncias; elas devem ser feitas às autoridades primeiro do que tudo. Vivemos num Estado de Direito e, embora ele tenha imensas falhas, que tentamos combater constantemente, a bem da Causa e dos animais cujos direitos defendemos, é importante que tenhamos em mente a forma como agimos." Não obstante, a Animal ressalva que "pacifismo não é o mesmo que passividade". "Somos uma ONG pacífica, mas jamais passiva", conclui na mensagem partilhada na sua página de Facebook.

Sugerir correcção
Comentar