Começou a semana das decisões para formar governo

Conservadores e sociais-democratas avaliam se têm uma base comum que permita avançar para conversações formais.

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Angela Merkel e Martin Schulz: conversações podem resultar, dizem Reuters/HANNIBAL HANSCHKE

Começaram este domingo cinco dias de conversações exploratórias para avaliar se a União Democrata-Cristã (CDU), da chanceler, Angela Merkel, a União Social-Cristã (o partido-gémeo da CDU na Baviera), e o Partido Social-Democrata (SPD) têm possibilidade de formar uma nova “grande coligação” (ou seja, uma espécie de bloco central).

“Não há linhas vermelhas”, disse o líder do SPD, Martin Schulz, acrescentando que espera que as políticas sejam “tão vermelhas quanto possível”. Angela Merkel disse apenas que havia muito trabalho a fazer, concluindo: “Acho que pode resultar.” E o mesmo disse o líder da CSU, Horst Seehofer.

Mas todos têm repetido que a próxima “grande coligação” não pode ser apenas uma reedição da anterior – enquanto nas eleições de 2013 os dois grandes partidos (CDU/CSU do centro-direita, SPD do centro-esquerda) tiveram 67% dos votos, em 2017 tiveram apenas 53,4%.  

Uma ligeira maioria de inquiridos (53%) numa sondagem de domingo acredita que o próximo governo vai mesmo ser de “grande coligação”, que não é uma fórmula muito querida. Embora tenha sido esta a solução do primeiro Governo de Merkel (2005-2009) e do terceiro (2013-2017), é uma excepção.

Este tipo de coligação implica a necessidade de consensos entre os dois blocos de partidos, dá muitas vezes a ideia de que não há posições políticas diferentes em alternativa e deixa pouco espaço à oposição. E com o estilo de governação de Merkel, mais dada a consensos e ao pragmatismo, os últimos anos de governo foram vistos por muitos quase como se fosse um executivo de gestão, sem grandes reformas. Ainda assim, a economia continua a dar notícias positivas e na semana passada a Alemanha registou mais um recorde de baixo desemprego.

O SPD, que foi o mpartido que mais perdeu nas últimas eleições (obteve mesmo o seu pior resultado do pós-guerra), tem um trunfo: a continuação das conversações está sujeita a aprovação dos seus membros, num congresso marcado para 21 de Janeiro, e um acordo final de coligação também será votado pelas bases, enquanto CDU e CSU o deverão fazer através das cúpulas. Os membros do SPD estão menos inclinados do que a liderança do partido a compromissos que, temem, irão pôr ainda mais em causa a sua identidade de partido de centro-esquerda. 

Apoio parlamentar?

Os sociais-democratas têm falado muito da possibilidade de dar apenas apoio parlamentar a um governo minoritário, da CDU/CSU ou CDU/CSU e Verdes – mas esta é uma hipótese que Merkel tem até agora descartado, dizendo que preferiria eleições antecipadas

Qualquer um destes cenários – governo minoritário ou eleições antecipadas – seria inédito depois de um fracasso para formar um executivo. E por isso permitiria ao partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que ficou em terceiro lugar, com 12,5% (e com o qual nenhum outro partido aceita cooperar), reivindicar vitória, já que foi a sua entrada no Parlamento que deixou mais difícil a formação de um governo.

Merkel tem o partido mais do seu lado, mas há um movimento crescente que quer uma reaproximação às raízes de direita da CDU. Apesar de tudo, um falhanço das negociações teria provavelmente consequências ainda piores, pelo que o incentivo é para um acordo.

Conversações anteriores entre CDU/CSU, Partido Liberal Democrata (FDP) e Verdes para o que seria uma coligação inédita a nível nacional na Alemanha falharam quando os liberais saíram dizendo que não havia espaço para compromisso. O SPD entrou relutantemente nas negociações, sob pressão do Presidente, Frank-Walter Steinmeier (que foi também ministro do SPD na última “grande coligção”).

A 20 de Dezembro quebrou-se oficialmente o recorde do tempo máximo necessário para formar uma coligação de governo na Alemanha e se a CDU/CSU e o SPD entrarem, como se espera, em negociações formais para uma coligação, há a expectativa de que essas negociações demorem várias semanas. Horst Seehofer, da CSU, apontou a Páscoa, que este ano se comemora a 1 de Abril, como o prazo-limite para o país ter um executivo.

Os partidos concordaram em não dar informação aos media até à conclusão destas conversações exploratórias, o que está previsto para quinta-feira. A última reunião, sobre finanças, poderá arrastar-se pela noite dentro, antecipa a imprensa alemã.

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