Botijas de gás: Revendedores criticam “ingerência” na gestão dos postos

Anarec opõe-se à intenção do Governo de obrigar os donos dos postos a investirem em áreas de armazenamento de botijas de gás.

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Governo tornou obrigatória venda de botijas de gás na generalidade dos postos de abastecimento bruno lisita

A obrigatoriedade de os postos de combustível passarem a comercializar gás engarrafado resultará num "alargamento residual" da rede de venda, porque é algo que já faz a "esmagadora maioria" dos cerca de três mil postos que existem em Portugal continental, garante a associação que representa os revendedores de combustíveis, a Anarec.

Frisando que a Anarec ainda não teve acesso ao diploma que foi aprovado na quinta-feira em Conselho de Ministros, o presidente da associação, Francisco Albuquerque, disse que, "em termos généricos", a entidade não se opõe à obrigatoriedade de venda nos postos, mas discorda que se possa forçar os empresários a investimentos num momento em que o sector atravessa "uma crise financeira". 

Isto porque, a confirmar-se a disposição que estava no projecto de decreto-lei (a que o PÚBLICO teve acesso) e que passa por obrigar os donos dos postos a criarem uma área destinada ao armazenamento, de modo a constituir reservas para fins comerciais, isso será uma "absoluta ingerência na vida das empresas", afirmou.

Considerando "absolutamente lamentável" que a Anarec, que "representa o sector directamente visado" pelo diploma, nem tenha sido auscultada pela tutela na sua elaboração, Francisco Albuquerque sublinhou que "cabe aos empresários fazerem uma análise de custo/benefício" e perceberem se lhes compensa fazer o investimento numa área reservada de maior dimensão para depósito de garrafas.

Num momento em que "há empresas a fechar por falta de liquidez", obrigar a fazer um investimento em armazenamento para um comércio "que até pode não trazer rentabilidade nenhuma" se, por exemplo, na área circundante houver vários pontos de venda (em Portugal há pelo menos 50 mil locais com botijas de gás à venda), é algo a que "a Anarec é totalmente contrária", afirmou.

Pelo contrário, uma medida que "não envolveria grande custo" e que seria benéfica para os retalhistas seria "aumentar legalmente a capacidade da área de retenção, que actualmente está nas 20 garrafas de gás, para o dobro ou para o triplo".

Aumentar a capacidade deste espaço onde na generalidade dos postos se acomodam as botijas, dentro de estruturas metálicas simples, permitiria, "com custos semelhantes de logística, fazer mais negócio", explicou Francisco Albuquerque.

Relativamente à parte do novo diploma que consagra a troca de garrafas obrigatória entre marcas (sem custos adicionais para os consumidores), o presidente da Anarec também disse que a associação "genericamente não se opõe", embora ainda não conheça os termos do decreto-lei. "Em termos práticos já se verifica", acrescentou.

Já sobre a introdução de um sistema de preços máximos no gás de botija, outro tema que está na actualidade devido às propostas legislativas apresentadas pelo PCP e pelo PAN nesse sentido (mas cuja votação foi adiada pelo PS, que ainda tem "dúvidas" sobre a medida), Francisco Albuquerque adiantou que a Anarec está "a estudar" o assunto, mas "por princípio não é favorável à criação de preços tabelados". A associação que representa os revendedores é uma de várias entidades que o PS pretende chamar à comissão parlamentar de Economia antes de serem votadas as propostas do PCP e do PAN.

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