Saber universal, instituição e gestão de capela

Muito do confronto que nos é dado seguir no regime da agenda mediática são os encadeamentos montados e as "cachas altas" que berram mais alto e em coro.

O saber, o conhecimento, a visão exacta, são património universal e não institucional. Nos becos que assim se querem, e há uns melhores que outros, reverencia-se o que puseram no altar, seja uma cara lúdica, um paleio popularucho, mesmo um santo a caminho da igreja das palavras, lá onde quem fala melhor é canonizado pela igreja das igrejas, a mediática: essa junta a tal imagem que vale mil palavras a mais que mil palavras em fluxo contínuo.

Quando observamos por todo o lado que as visões produzidas são compartimentadas, correspondem a vocabulários de capelas, percebemos que a razão do saber é derrotada pelo interesse corporativo da visão, pelo cientismo particular do ângulo familiar, pelo imediato do jogo, pelo papel ao serviço do qual o empregado bota o seu ver, sempre contraditoriamente estruturado, mais pelo lugar que tem na estrutura que pela verdade do assunto. Este tipo de olhar — há outros, os que não andam no serviço de urgência ao cumprimento do drama agendado na cabotagem dos dias — está contaminado pelo que o liga à sua sobrevivência própria e ao imediato, a criatura ou vai de dono — os média conferem estatuto de renda — ou é o imediato de serviço, quando não o grumete.

A emancipação é de todos, mesmo dos que em cima esmagam, pois o que acaba são as condições e o regime do esmagar. Isso está cada vez mais próximo e cada vez mais longe, os dois movimentos coincidem, são como o ano bipolar português, como se reinventou, pois temos cada vez mais meios de escrutinar e cada vez mais se escrutinando o que corrompe se reproduz — os casos são mais que as mães e são mesmo o pai de todos os nossos problemas: a verdade relativiza-se de tal maneira que é sempre travestida que nos chega depois de bem espremido o seu corpo, o que significa que para lá chegar se tem de mentir, enredando-se quem o faz na trama que isso urde por si. A especialidade? Um saber táctico, a mentirologia, maquiavéis de pacotilha, debate-ping-pong.

Claro que nada se faz sem um determinado tipo de violência, aliás a violência mediática, o assédio mediático, deveria, como os outros, ser objecto de juízo jurídico, porque trabalha para a mentira obrigatória, as fake news não são só as do Trampa, são a trampa de que se alimenta — tal como o escaravelho de Aristófanes, aliás. Independência, juízo independente, por onde andas? Esconderam-te, não tens espaço de, e quando tens logo querem fazer de ti mais um do esquema. O esquema está altamente montado e é difícil escapar-lhe. Já nem os entrismos resultam, agora só mesmo as toupeiras. Mas um exército de toupeiras é muito complicado de gerir, mesmo que essa visão clara no escuro, mesmo cega, seja a mais profunda. Fecha os olhos e abre a mente. O que fica evidente é que muito do confronto que nos é dado seguir no regime da agenda mediática e quem faz os dias são os encadeamentos montados e as "cachas altas" que berram mais alto e em coro, sendo que o ecrã obviamente brilha mais para todos nós, é um sol constante de "grande horizonte" a cair-nos em cima, captando as audiências — logo com telemetragem, estatística de esgrimir, ranking montado — mas ia eu a dizer... muito do confronto não passa de gestão dos interesses próprios, forma corporativa de reagir pela manutenção da renda e não acção pela transformação que emancipa — tudo não é senão modo de gerir património e renda viva, imagem que vive de palavras. Viva a laicidade absoluta!

Abraços e bom 18 para todos os que desejam outro mundo ainda neste, obviamente paradisíaco! O nosso objectivo? Voltar à inocência de Adão e Eva mas cercados de tecnologia escrava depois de pôr a serpente a lavar a louça.

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