O sol brilha mais, mas 2018 ainda terá nuvens negras

Repetem-se as perguntas, mas não as respostas. Um ano depois de termos desafiado líderes políticos para nos darem as suas expectativas para 2017, voltámos a perguntar-lhes: devemos estar pessimistas ou optimistas para o ano que entra? Porquê? Para que datas (ou personalidades) devemos olhar com mais atenção? Que prioridade tem para o ano novo? Por haver eleições internas no PSD, questionámos Rui Rio, mas também Pedro Santana Lopes, que não quis responder. Há mais optimismo no ar, mas a Europa continua a dar azo a preocupações. As verdadeiras nuvens negras chamam-se Trump, “Brexit” e Brasil.

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Cartoon de Luís Afonso
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Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República Rui Gaudêncio/Publico
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Carlos Moedas, comissário europeu para a Investigação, Ciência e Inovação João Silva
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Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP daniel rocha
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Rui Rio, candidato à liderança do PSD LUSA/TIAGO PETINGA
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Assunção Cristas, presidente do CDS-PP Miguel Manso
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Catarina Martins, coordenadora do Bloco de Esquerda RUI MINDERICO/LUSA

Ferro Rodrigues

Presidente da Assembleia da República

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1. Devemos estar pessimistas ou optimistas para o ano que entra? Porquê?
Acho que temos boas razões para estarmos otimistas.

Em termos económicos e sociais, 2017 é um bom ponto de partida. O desemprego está a baixar, a economia a crescer e as contas públicas no bom caminho.

Voltámos a ganhar a confiança dos mercados e das instituições europeias – a subida do rating da República comprova-o.

A confiança dos consumidores e dos agentes económicos é evidente. Indicadores sociais, como o risco de pobreza, também dão sinais de melhoria.

Na frente europeia, tenho confiança de que os governos alemão e francês, com o apoio ativo de Portugal, da Comissão Europeia e de outros parceiros, possam liderar as mudanças que se impõem na União.

As mudanças que verdadeiramente mudam fazem-se em contextos de estabilidade económica e social.

Isto é válido também para a frente interna, onde ao mesmo tempo que prosseguimos a consolidação orçamental temos de saber introduzir reformas que melhorem a capacidade de resposta do Estado, a qualificação das pessoas e o ordenamento do território e da floresta.

2. Para que datas (ou personalidades) devemos olhar com mais atenção em 2018?
Tenho observado um ambiente político de menor crispação, e, não sendo 2018 ano de eleições, é importante que deste momento do ciclo político possam resultar boas soluções para os problemas do país.

Uma democracia com vitalidade não precisa de crispação.

O país dispensa uma democracia de casos; precisa é de uma democracia pluralista, feita de políticas de qualidade e de alternativas sólidas.

Precisa de um bom governo e de uma boa oposição, porque não há bom governo sem boa oposição e não há boa democracia sem alternativas.

De forma mais específica, diria que deveremos estar atentos ao último Orçamento da legislatura, às eleições em Itália e às negociações do “Brexit”.

Para os amantes do futebol e da seleção nacional, como é o meu caso, junho será mês de Mundial, o que certamente nos vai prender aos ecrãs da televisão.  

3. Que prioridade tem para o ano novo?
Em 2018 é bom que o debate se eleve a partir do confronto plural de visões diferentes e que, ao mesmo tempo, os principais dirigentes políticos saibam responder aos anseios dos portugueses, entendendo-se quanto a questões estratégicas que vão além da legislatura.

Estou a pensar em temas como a reforma florestal, o ordenamento do território, a descentralização; estou a pensar na luta, incessante, de todos, pelo desenvolvimento do país, pela justiça social por que sempre me bati.

Como presidente da Assembleia da República, estarei empenhado nas comemorações do Bicentenário do Constitucionalismo e nos projetos do Parlamento Digital e do centro interpretativo do Parlamento.

São iniciativas viradas para o futuro e que, a par de outras, podem contribuir para melhorar a relação dos portugueses com os seus representantes.

Por último, uma prioridade pessoal para 2018: que o Sporting seja campeão.

 

Carlos Moedas

Comissário europeu para a Investigação, Ciência e Inovação

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1. Devemos estar pessimistas ou optimistas para o ano que entra? Porquê?
Sou por natureza optimista, apesar das circunstâncias adversas. Para a UE e Portugal em particular, 2018 será um ano em que continuaremos a colher os frutos da reformas realizadas, a perseguir a tendência da recuperação económica e financeira e redução do desemprego. Em simultâneo, seremos confrontados com desafios globais cada vez mais voláteis. Por isso mesmo é importante aproveitar este ciclo positivo para nos tornarmos mais resilientes.

2. Para que datas (ou personalidades) devemos olhar com mais atenção em 2018?
Tenho uma grande expectativa acerca de Emmanuel Macron. 2018 será sem dúvida o ano crucial para executar as suas reformas ambiciosas a nível francês e europeu.

Em relação a datas penso que os resultados das eleições legislativas na Itália, em Março de 2018, serão muito importantes para o projeto europeu.

3. Que prioridade tem para o ano novo?
Quero continuar a trabalhar a nível europeu para tornar a UE e Portugal uma sociedade mais aberta e inclusiva, mais inovadora e resiliente.

 

Jerónimo de Sousa

Secretário-geral do PCP

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1. Devemos estar pessimistas ou optimistas para o ano que entra? Porquê?
Talvez mais do que esses sentimentos eu diria que estou convicto e com esperança de que é possível um ano novo melhor para os trabalhadores, o povo e o país, rompendo com os bloqueios e imposições externas que amarram e condicionam essa esperança, confiando que todas as camadas e classes antimonopolistas lutarão por isso a partir dos seus interesses e aspirações concretos.

2. Para que datas (ou personalidades) devemos olhar com mais atenção em 2018?
Prefiro referenciar datas e, entre várias, por razões de origem e de objectivos porque lutamos, 2018 será um ano que merece um grande 1.º de Maio.

3. Que prioridade tem para o ano novo?
No quadro da intervenção do partido contribuir para, a par da concretização dos avanços na reposição de direitos e rendimentos contidos no Orçamento do Estado para 2018, dar passos adiante em relação aos serviços públicos, em particular na Saúde, Educação, Segurança Social e transportes, persistir para que se vençam estrangulamentos e constrangimentos, dar força à ideia de desenvolvimento da produção nacional, prosseguir o combate contra a precariedade.

 

Rui Rio

Candidato à liderança do PSD

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1. Devemos estar pessimistas ou optimistas para o ano que entra? Porquê?
Nem uma coisa, nem outra. Na sociedade atual tudo tende a ser demasiado volátil, pelo que, quando menos se espera, algo de bom ou de mau pode acontecer.

Do lado da governação, espero um ano não muito diferente do atual, mas com um maior desgaste do Governo e com uma pressão maior dentro da coligação parlamentar, seja ao nível do confronto na AR, seja ao nível do movimento sindical. Do lado da oposição, teremos, seguramente, um PSD mais atuante, depois deste demasiado longo período de tempo dedicado à substituição da liderança.

2. Para que datas (ou personalidades) devemos olhar com mais atenção em 2018?
À escala internacional, destaca-se, claramente, o Presidente dos EUA, pelo perigo que as suas atitudes podem representar para o mundo.

Em Portugal, não evidencio nenhuma, especialmente. Há diversas personalidades que pela posição que ocupam têm sempre uma enorme influência no nosso futuro coletivo. O poder está hoje mais fragmentado e, para o bem e para o mal, isso relativiza mais o poder de cada um.

3. Que prioridade tem para o ano novo?
A minha prioridade é, obviamente, ganhar as eleições internas no PSD.

Se tal acontecer, as prioridades passarão a ser a dinamização do partido, o reforço do seu entrosamento com a sociedade portuguesa e, fundamentalmente, a construção de uma alternativa de governo à solução parlamentar atual.

 

Assunção Cristas

Presidente do CDS-PP

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1. Devemos estar pessimistas ou optimistas para o ano que entra? Porquê?
Sou sempre otimista com os pés assentes na terra. Na parte que me diz respeito, trabalho diariamente para construir uma alternativa positiva para os portugueses. Quero com isto dizer que, consciente das dificuldades, sinto que há uma confiança crescente dos portugueses no CDS, e em 2017 tivemos a prova disso mesmo com os 21% alcançados em Lisboa. Não há impossíveis, acredito no trabalho e na dedicação.

2. Para que datas (ou personalidades) devemos olhar com mais atenção em 2018?
Internamente, depois do ano trágico de 2017, o país deve estar particularmente atento ao que o Governo vai ou não fazer em matéria de prevenção e combate aos incêndios, nomeadamente se cumpre as promessas que fez.

O Governo está numa fase de evidente desorientação e a união das esquerdas começa a afrouxar. À medida que se aproxima o fim da legislatura, o país deve estar particularmente vigilante em relação às tentações de uma governação eleitoralista, a par de um escrutínio grande da qualidade dos serviços públicos, cuja degradação é notória.

Paralelamente, num mundo cada vez mais globalizado, deveremos acompanhar com atenção, nomeadamente, as eleições para o Congresso norte-americano e as eleições presidenciais na Rússia e no Brasil.

3. Que prioridade tem para o ano novo?
Continuar um caminho de afirmação de uma alternativa sólida e credível ao Governo das esquerdas unidas, através de uma oposição firme e construtiva. No congresso do CDS, em março, proporei ao partido o arrojo e a ambição de intensificar o trabalho para virmos a ser a primeira escolha dos portugueses, num caminho de abertura de que o ciclo de conferências Ouvir Portugal é um bom exemplo.

 

Catarina Martins

Coordenadora do Bloco de Esquerda

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1. Devemos estar pessimistas ou optimistas para o ano que entra? Porquê?
O caminho que fizemos desde o início da legislatura permitiu recuperar salários e pensões e, com isso, devolver a dignidade a quem nos últimos anos só conheceu austeridade e cortes. É hoje evidente que, contrariando todas as previsões da direita, os indicadores económicos melhoraram, quando melhorou a vida das pessoas. Sabemos, no entanto, dos inúmeros riscos que corremos. Ao nível nacional, da precariedade da legislação laboral e dos serviços públicos. Ao nível global, com o perigo de uma nova crise financeira, a escalada belicista e os fenómenos climatéricos extremos associados ao aquecimento global, 2018 traz muita apreensão. Entramos, assim, no novo ano com o otimismo de quem sabe que o caminho feito nos exige agora coragem para encontrar respostas sustentadas para os problemas estruturais do país e para o proteger dos choques externos.

2. Para que datas (ou personalidades) devemos olhar com mais atenção em 2018?
Em Janeiro desce o IRS para a generalidade dos trabalhadores, aumenta o salário mínimo nacional e todas as pensões são atualizadas. No final do ano é reposto finalmente o subsídio de Natal pago por inteiro a trabalhadores do público e privado e a pensionistas. Veremos se estes pequenos passos de recuperação de rendimentos do trabalho chegam para uma consolidação do crescimento económico e da criação de emprego. 2018 será também o ano do último Orçamento desta legislatura e das escolhas fundamentais. Seguramente a política do BCE será central pela definição dos juros não só a dívida pública portuguesa, mas também de toda a economia. Os juros do crédito à habitação são relevantes para muitas famílias em Portugal. E uma nova bolha imobiliária espreita. Os protagonistas do ano serão os povos. A crise de legitimidade democrática da Europa, o precipício Trump, a tanta instabilidade ao nível global e a emergência ambiental terão caminhos disputados em cada país por maiorias sociais em formação e em que as novas gerações terão um papel determinante.

3. Que prioridade tem para o ano novo?
É preciso concretizar o objetivo de traduzir o crescimento da economia na melhoria da vida das pessoas, consolidando o caminho de recuperação de rendimentos e garantindo um equilíbrio sustentado das contas públicas. 2018 deverá ser o ano em que começamos a avançar com reformas estruturais que garantam que o emprego criado é estável e não precário, que conseguimos responder ao problema da energia reduzindo a fatura da luz e enfrentando os interesses económicos, em que o investimento na Saúde e Educação recupera os pilares do Estado social, em que respondemos ao enorme problema da dívida pública e em que o investimento público pode apoiar o desenvolvimento económico, nomeadamente nos territórios mais vulneráveis.

Foi respeitada a opção dos autores quanto ao acordo ortográfico

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