Castro Marim perde Unidade Móvel de Saúde por conflito político

Pela primeira vez desde que é presidente de Câmara, há 24 anos, Francisco Amaral, governa em minoria.

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Enric Vives-Rubio

A Unidade Móvel de Saúde (UMS) do concelho de Castro Marim vai parar, a partir de Janeiro, deixando sem assistência médica uma parte da população idosa residente nas zonas mais isoladas. Na base da suspensão do serviço, decisão tomada na última reunião de câmara, está um medir de forças (alegando gastos no sector da saúde) entre o executivo, liderado pelo PSD, em minoria, e a oposição, maioritária. O antagonismo instalou-se e ameaça ter continuidade.

A oposição, agora em maioria, chumbou a manutenção do protocolo que permitia continuidade da UMS. O presidente da câmara, Francisco Amaral, PSD, em declarações ao PÚBLICO, diz: “Estão a fazer política do bota-abaixo, para que eu me chateie e abandone o lugar”. A vereadora Célia Brito, socialista, contra-ataca: “O presidente tem ainda de fazer a aprendizagem democrática: ouvir, dialogar e aceitar as propostas dos outros”.

Francisco Amaral é presidente de câmara há 24 anos. Durante quase duas décadas esteve à frente do concelho de Alcoutim. Porém, a lei da limitação de mandatos fê-lo virar-se para o vizinho concelho de Castro Marim, onde se candidatou. Já leva dois mandatos à frente deste município mas, pela primeira vez, ficou a governar em minoria.

A assistência médica aos mais desfavorecidos sempre foi a “bandeira” de Francisco Amaral, médico de profissão. Porém, agora está a ser confrontado com a forma como colocou o município a substituir-se ao Serviço Nacional de Saúde (SNS). Em Castro Marim, a UMS funciona há três anos, com três médicas reformadas e um enfermeiro. O pagamento do serviço, 61 mil euros por ano, é assegurado pela câmara, mas a gestão do dinheiro é feita pela Associação Social de Odeleite, através de um protocolo estabelecido entre as duas entidades. “Achamos que é possível prestar um serviço mais completo, com outras valências, e menos custos”, diz Célia Brito, enfermeira de profissão. Por isso, quando chegou a altura de deliberar sobre a continuidade desse acordo, a oposição votou contra. “Não queremos retirar a UMS”, sublinha a autarca. José Estevens, eleito pelo movimento “Castro Marim Primeiro”, acrescenta: “Na primeira reunião de Janeiro apresentamos uma proposta alternativa, que passa por estabelecer um acordo com Santa Casa da Misericórdia ou a Associação de Bem Estar do Azinhal — duas Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS), com quadro de pessoal especializado”. Duas das três médicas, reformadas, recebem cada uma 1300 euros mensais, pela prestação de 10 horas de serviço semanal. Uma das clínicas é voluntária e dá consultas apenas quando uma das colegas não se pode deslocar. O enfermeiro é pago pelo ministério da Saúde.

O concelho de Castro Marim tem apenas 7 mil habitantes e uma parte da população vive em montes isolados, no meio da serra. Apesar de estar relativamente bem servido de vias rodoviárias, não existe uma rede de transportes públicos que garanta o acesso das pessoas à sede de concelho, onde funciona uma Unidade de Saúde Familiar.

“A atitude da oposição é criminosa, estão a prejudicar os mais frágeis”, acusa Francisco Amaral, prometendo que não vai desistir de lutar por esta causa. “O que o presidente está a pretender é fazer aproveitamento político da UMS”, riposta Célia Brito, secundada por José Estevens, o presidente da câmara de Castro Marim que antecedeu Amaral.Antes das eleições autárquicas, por causa da escolha dos candidatos, José Estevens, na altura militante do PSD, abandonou o partido e candidatou-se como independente.

O chumbo do orçamento da câmara, na semana passada, foi o primeiro sinal de um confronto político que promete vir a ter continuidade. No anterior mandato, as reuniões de câmara demoravam não mais do que 15 ou 20 minutos. A última durou mais de cinco de horas — passava da 1h30 da madrugada de quarta-feira quando os trabalhos foram dados por terminados.      

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