Eles voltaram para pôr Portugal a fotografar com uma “Lá Tinha”

O projecto "Lá Tinha" está de regresso a Portugal. E desta vez tem uma campanha de "crowdfunding" em curso para ajudar a minimizar os custos materiais e continuar a criar oficinas — por todo o país

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Lá Tinha

Lembras-te daquela história de tirar fotografias com uma lata de sardinhas? A ideia passa por reutilizar as latas que deitamos quase sempre ao lixo. Basta montar a estrutura, juntar-lhe um rolo fotográfico e disparar. Click. Click. Click. Depois de gastares os fotogramas todos a que tinhas direito, é só mandar revelar.

Simples? O suficiente para se criar o projecto Lá Tinha, que procura passar este pequeno ensinamento em pequenas aulas abertas a todos os interessados. Surge em 2013, com a ideia de criar uma oficina na Cova da Moura, onde as crianças pudessem construir a sua câmara fotográfica baseada na técnica de pinhole a partir de qualquer coisa. A partir daí, não pararam. Como explica o co-fundador Diego Cunha, que actualmente partilha a gestão do projecto com Maitane Ussia, seguiram-se a região do País Basco, em Espanha, e o Brasil. Agora estão de regresso a Portugal, a terra-berço da ideia, prontos para assentar à boleia de uma nova proposta.

  

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As câmaras fotográficas são trocadas por latas que se tornam a nossa lente HG

É aqui que entra o crowdfunding, que termina no final do ano, criado e proposto pela Remote Year, uma empresa que organiza programas de trabalho para nómadas digitais que querem conhecer o mundo. Os participantes podem passar um mês em cada cidade e uma das escolhidas é precisamente Lisboa. Um dos objectivos do projecto passa também por criar, em cada local, uma acção de impacto social positivo. Assim apareceu o Lá Tinha. "Eles propuseram-nos ser esse projecto de impacto positivo. E, todos os meses, o grupo que chegar [do Remote Year] lança-nos uma proposta”, explica Diego.

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Basta um tripé improvisado e temos uma fotografia feita à mão, já que nós regulamos a luz e a abertura da lente HG

O próximo grupo, então, vai participar em duas sessões. A campanha actual de financiamento colectivo destina-se a promovê-las, mas não só: os organizadores querem comprar um scanner, de forma a baixar os custos operacionais, nomeadamente com rolos fotográficos, digitalização e revelação. A meta situa-se agora nos 1500 dólares; o objectivo inicial, de 1000 dólares, foi atingido em poucos dias. 

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O crowdfunding para o projecto Lá Tinha pretende diminuir os custos materiais e promover a criação de duas oficinas HG

Câmaras de lata para todas as idades — e todo o país

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O projecto Lá Tinha nasceu em 2013, numa oficina com crianças e jovens da Cova da Moura Hugo Guerra

Os últimos anos foram de interregno, em Portugal, pelo menos. Depois da primeira experiência em Portugal, os promotores viajaram até ao País Basco para recriarem novamente estes projectos, que decorreram depois, até meio deste ano, do outro lado do Atlântico, no Brasil. No total, já organizaram 20 oficinas nestes quatro anos de Lá Tinha.

A última, antes da campanha de angariação de fundos, foi já em território português, e decorreu a 19 de Dezembro, no Mercado de Culturas, em Arroios. O trabalho de todos os participantes será exposto no Clube do Bacalhau, dia 28 de Dezembro. Mas atenção: esta foi apenas a primeira formação de uma espécie de “passeio” que o projecto quer fazer pelo país fora. “Apesar de ter começado com o cariz social, na Cova da Moura com crianças e jovens, as oficinas já não têm idade ou restrições. Abrimos para quem tiver interesse”, conta Diego Cunha. Há inclusive workshops em que adultos e crianças trabalham juntos na reciclagem de latas, embalagens de sumos ou rolos fotográficos vazios — tudo para criar uma máquina de retratos. 

Por agora, querem consolidar o Lá Tinha em Portugal, permanecendo por cá pelo menos um ano. Querem estender a sua acção social, saindo das redondezas de Lisboa. Até agora, o mais longe que chegaram no país foi a Óbidos. “Portugal tem muito para se mostrar e também queremos passear um pouco pelo país”, expõe Diego, que quer espalhar estas máquinas fotográficas pelo resto do país. “O grande objectivo é ser um projecto de passa-a-palavra. Aprendes o processo todo e podes ensinar à família, a um amigo. E apesar de serem câmaras descartáveis, elas são verdadeiras. Podes fotografar sempre que quiseres.”

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