O melhor de 2017? O regresso a casa

As ruas onde crescemos e vivemos, as mesmas onde queremos morrer, onde nada pode acontecer, onde está tudo bem, debaixo do sol, entre o silêncio dos pássaros enquanto subimos a rua de mãos dadas, finalmente, de regresso a casa

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Jason Briscoe/Unsplash

As malas na mão, o teu sorriso, o riso na tua cara, a casa limpa ao fim de três dias, à nossa espera à espera de qualquer dia, as malas na mão escada abaixo, rua acima, comboio adentro, aeroporto fora, avião adentro, as mãos dadas a caminho do ar, no ar, em direcção ao chão, em direcção ao mar ou talvez ao Tejo, as praias de Portugal, a luz do dia, a luz do sol, cheira a calor, está calor, a luz de Lisboa, a luz do mar, a caminho de casa metro adentro, comboio adentro, terra fora, os teus pais no apeadeiro, o comboio a chegar, o abraço dos teus pais, os beijos da minha mãe, o telemóvel nas mãos com as fotografias nas mãos, de volta a casa, a cadela aos pulos, nós aos pulos, a calçada debaixo dos pés, a areia debaixo dos pés, entre os pés, nos dedos dos pés, um passeio à beira-mar, um passeio no mar, o mar no Verão igual ao mar no Inverno, a minha irmã e a minha sobrinha, a vista da varanda do primeiro andar, os nossos amigos, jantar fora, Lisboa, a minha avó, o Verão na praia, o Natal à mesa, a saudade, a alegria, viver um sonho, esta fantasia, um café, dois cafés, três cafés, uma cerveja, duas cervejas, três cervejas, as noites sem fim, os dias que nunca mais acabam, a manhã no café, os vizinhos cuscos, dormir sem parar, dormir sem acordar, sem pensar, sem temer, as ruas onde crescemos e vivemos, as mesmas onde queremos morrer, onde nada pode acontecer, onde está tudo bem, debaixo do sol, entre o silêncio dos pássaros enquanto subimos a rua de mãos dadas, finalmente, de regresso a casa. 

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