Morreu Miguel, o rei que fez greve durante o comunismo

Era o último chefe de Estado do período da guerra ainda vivo.

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Era o último sobrevivente entre os chefes de Estado que estiveram em funções durante a II Guerra Mundial - Miguel, que foi rei da Roménia em dois períodos, morreu aos 96 anos.

Miguel chegou ao trono a primeira vez nos anos de 1920, quanto tinha apenas cinco anos. O pai, Carol, foi forçado a abdicar devido a um caso amoroso e a coroa passou para Ferdinando (avô de Miguel). Quando este morreu, Miguel ascendeu ao trono onde esteve entre 20 de Julho de 1927 e 8 de Junho de 1930 debaixo das ordens de uma regência, uma vez que era menor. A regência foi tão conturbada que foi afastada e, em 1930, Carol voltou do exílio em Paris para voltar a ser rei, o que deixou Miguel de novo da posição de herdeiro.

Ascendeu ao trono pela segunda vez em 1940 - foi um monarca figurativo até 1944 (chegou a participar num golpe para derrubar o primeiro-ministro pró-nazi), ano em que as tropas soviéticas entraram na Roménia. O rei Miguel foi condecorado pelo Presidente dos EUA Harry Truman e por Estaline no final da II Guerra Mundial.

Insurgiu-se também contra o domínio soviético e fez greve contra as políticas do governo comunista - recusou, por exemplo, assinar a ordem de execução de opositores. Foi forçado a abdicar em 1947 - o exílio foi-lhe proposto antes da viagem para assistir ao casamento da então princesa Isabel de Inglaterra. Não aceitou. Mas precaveu-se e levou para Inglaterra bens da coroa que depois vendeu.

Numa entrevista à BBC em 2011, contou: "[Os comunistas] disseram-me 'se não assinares [a abdicação], vamos às prisões e matamos mil pessoas".

Depois de abdicar, viveu no exílio até à década de 1990. A monarquia romena foi a última a cair atrás da cortina de ferro.

Numa primeira visita ao país após a queda do comunismo e do regime de Nicolae Ceaucescu (1989), juntou mais de um milhão de pessoas numa sessão pública. A popularidade do velho rei, porém, assustou os novos líderes que recusaram novas autorizações para Miguel e a família voltarem ao país. Só em 1997 conseguiu recuperar a nacionalidade e algumas propriedades e bens que lhe tinham sido confiscados após a queda do regime comunista de Nicolae Ceaucescu (1989).

Há um ano foi diagnosticado com leucemia e afastou-se da vida pública. Miguel I da Roménia, descendente directo da rainha Vitória, do czar Nicolau da Rússia e de D. Maria II de Portugal, morreu esta terça-feira, na Suíça, aos 96 anos.

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