Directora do Museu do Chiado demite-se e já tem substituta

Aida Rechena rescinde a seu pedido e Emília Ferreira é para já a nova directora do Museu Nacional de Arte Contemporânea (MNAC)/Museu do Chiado.

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Aida Rechena Ricardo Campos
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Emília Ferreira Flor Salgueiro

A Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) anunciou esta segunda-feira em comunicado uma nova directora para o Museu Nacional de Arte Contemporânea (MNAC)/Museu do Chiado, ao mesmo tempo que informava que Aida Rechena tinha apresentado a sua demissão. A nomeação de Emília Ferreira “ocorre em regime de substituição”, devendo agora a DGPC abrir um concurso público para o cargo, o que provavelmente acontecerá até à Primavera de 2018.

A saída antecipada de Aida Rechena dá-se a 1 de Dezembro, tendo a directora ficado no cargo menos de dois anos. Se cumprisse a comissão de serviço até ao fim, a museóloga só deixaria o Chiado em Fevereiro de 2019. 

A DGPC, organismo que gere os museus e monumentos afectos ao Ministério da Cultura, não apresentou razões para a demissão de Aida Rechena. No entanto, além de ter sido pública a tensão com uma coleccionadora com obras em depósito no museu, o PÚBLICO sabe que eram várias as dificuldades de articulação com a própria equipa do museu. 

Ao PÚBLICO, Rechena disse apenas que pediu à directora da DGPC, Paula Silva, para sair já em Outubro, mas não esclareceu as razões da demissão agora anunciada. 

Emília Ferreira é investigadora do Instituto de História da Arte da Universidade Nova de Lisboa, na área dos estudos de museus, e investigadora associada da Universidade de Vitória, Canadá. Tem colaborado com a Fundação Calouste Gulbenkian desde 1997, com os serviços educativos, e realizado algumas curadorias; fez parte da equipa da Casa da Cerca – Centro de Arte Contemporânea, de 2000 a 2017.  

Sobre as suas expectativas em relação ao novo cargo no Museu do Chiado, a directora substituta, que começa a trabalhar na próxima semana, aponta ao PÚBLICO a qualidade da equipa: “Acho que aquele museu é extraordinário. É um museu com imensas potencialidades, porque tem uma equipa fabulosa. Portanto, as minhas expectativas são as melhores. Mas ainda não posso dizer nada de concreto, porque ainda nem sequer estou em funções. Agora é uma coisa que terá de ser construída.”

Um cenário de tensão

No final de Setembro, o PÚBLICO noticiou que o MNAC, o único museu nacional consagrado à arte contemporânea da rede da DGPC, estava em risco de perder um núcleo importante ali depositado desde 2003, pertencente a Isabel Vaz Lopes e com obras de artistas fundamentais como Pedro Cabrita Reis, Rui Chafes, José Pedro Croft ou Paulo Nozolino, que não estão representados na sua colecção. Em parte, Vaz Lopes justificava a decisão de pôr termo a este depósito de quase 15 anos com o facto de estar descontente com a política museológica e com a orientação da instituição que Aida Rechena dirigia desde Fevereiro de 2016.

Sobre estes problemas do museu, nomeadamente a tensão que levou à retirada da colecção de Isabel Vaz Lopes, a nova directora não quis comentar: “Aquilo que sei são coisas que ouvimos dizer, e é sempre diferente o que se ouve dizer e aquilo que é. Agora vamos ver, só quando se põe a mão na massa é que percebemos realmente o que podemos fazer.” 

Quando o PÚBLICO noticiou a iminente saída da colecção Vaz Lopes, a directora Aida Rechena disse que, apesar de a coleccionadora ter pedido a desafectação das obras cedidas ao museu, o processo estava ainda “em aberto”, escudando-se em questões jurídicas. Tudo pelo facto de o pedido de saída das obras ter sido feito em dois momentos distintos: o primeiro antes da renovação automática do acordo de depósito de cinco anos, o segundo já depois da data prevista pelo protocolo. Em Julho, Vaz Lopes pediu a retirada de esculturas de Croft, Cabrita Reis e Chafes e de fotografias de Molder, Nozolino e José Luís Neto; em Setembro comunicou ao MNAC o desejo de levar todo o acervo que lhe tinha confiado em 2003.

Um mês depois, a DGPC anunciou que tinha comprado algumas obras fotográficas da colecção de Isabel Vaz Lopes no valor de 35 mil euros para o acervo do MNAC. Trata-se de seis fotografias de José Luís Neto, duas de Augusto Alves da Silva e uma de Júlia Ventura. Este lote de três autores, integrado na colecção do MNAC a pedido da sua curadora de fotografia, Emília Tavares, deixou de fora duas obras de Nozolino, cuja compra esta historiadora defendera. Na altura, a DGPC garantiu que a aquisição de outras obras não estava posta de parte.

O PÚBLICO apurou que todas as obras do depósito de Vaz Lopes, à excepção das nove fotografias em processo de venda, saíram entretanto do MNAC. com J.A.C.

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