Os pobres não podem ir para onde eles vão

Para estes setores, para esta corrente política, empobrecer é o caminho.

Por estes dias de novembro corre um estranho redemoinho para atacar os resultados das negociações entre o governo e os professores. O que constitui a base dessa ventania encontra-se no zelo dos que entendem que o Estado deve tratar com a função pública como sendo uma cambada que só pensa nos seus interesses barriguistas.

Este redemoinho implantou-se nos media e daí vai partindo como um pequeno tufão para se infiltrar na cabeça dos portugueses.

No fundo, o que vai pelo ar das notícias é a ideia do profundo egoísmo dos professores para se aproveitarem do seu poder reivindicativo e por essa via imporem aos portugueses um aumento da despesa pública. Os professores e a função pública podem fazer perder tudo o que conseguiu nestes dois anos de governo de António Costa …

Como se a crise que se abateu sobre Portugal tivesse sido causada por quem tem um vencimento que é bem menor do que ganham os professores na UE, por quem vive dos seus vencimentos como funcionários públicos, pelo tal Estado despesista que deixa de o ser quando derrete milhares de milhões para salvar a banca da ruína provocada pela gula sem limite de uns tantos banqueiros a quem a República foi condecorando e eles, em troca, honraram essas manifestações de apreço com o descalabro da sua gestão.

É necessário que a coragem não se deixe atropelar pelo cinismo; a crise resultou do sistema financeiro, de banqueiros que fizeram seu e dos seus amigos aquilo que não lhes pertencia; deitaram a mão ao dinheiro dos portugueses para fazerem negociatas de todo o tipo; sim, aqueles fulanos todos condecorados que nos entravam pela casa dentro como cidadãos empreendedores, cheios de virtudes, não passavam de trafulhas.

Foram os seus desmandos que provocaram a crise. Não eram os portugueses que viviam acima das suas possibilidades; foram esses figurões que arruinaram bancos e fizeram crer (para ganhar mundos) que os portugueses podiam viver do crédito, porque para eles o crédito era negócio. Por causa desses milhares de milhões de euros que fizeram desaparecer é que os professores e a função pública viram os seus direitos congelados. Não foram os professores, nem os funcionários públicos que criaram a crise; foram vítimas da crise.

É, pois, natural que queiram recuperar o que perderam.

Mal vai o país que não sabe dignificar quem ensina; muito mal irá o país e os seus filhos se os professores forem apresentados como um bando de irresponsáveis. É, por estas razões, que num inquérito recente foi possível constatar que agora só quer ir para professor quem tem qualificações mínimas, enquanto na Finlândia vai para professor quem tem as melhores classificações. Quem semeia ignorância, colhe ignorância… há muito.

O cinismo atingiu de tal modo os media que a iniciativa do PCP de repor os subsídios de férias e de natal na data em que sempre foram recebidos valeu títulos e notícias a dar conta que os trabalhadores portugueses passarão a receber menos a partir de janeiro de 2018; é o cúmulo da desfaçatez. É o vale tudo para atacar os adversários. Esta é pior que uma entrada a pés juntos. Só com cartão vermelho.

Este redemoinho que nasce no clima revanchista de um PSD sem rumo, de um CDS sem perceber o que está a acontecer ao irmão maior, e dos setores financeiros apoiados por Bruxelas e das hesitações do governo para travar esta possibilidade de Portugal não marchar ao ritmo dos políticas autoritárias de fazer os mais desfavorecidos continuarem a pagar a crise provocada pela minoria mais altamente favorecida.

Para estes setores, para esta corrente política, empobrecer é o caminho. Por cada pobre que façam gerar, por cada euro que retirem ao setor público aí estão os privados, os mesmos de sempre, conhecidos de todos, à frente das mesmas empresas, bancos, seguradoras, a abocanhar os despojos deixados por essa miséria criada pelo empobrecimento.

Dizem-se cristãos, católicos, apostólicos, romanos e frequentadores de Fátima, a maior parte. Mas o seu cristianismo, as suas idas a Fátima é para fazer de conta, para sustentar o status quo… Quando o Papa Francisco diz o que disse, no dia mundial dos pobres, acerca do passaporte para o paraíso, riem-se baixinho de desprezo pelo Papa argentino. Para eles, o que ele diz, não vale nada. Os pobres não podem ir para onde eles vão. Deixam aos pobres o inferno na terra.

 

         

 

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