Cartas ao director

Público e Notório

O jornal que dirige faz hoje uma "transcrição"de afirmações minhas no programa da Rádio Renascença Falar Claro. Essa transcrição falseia grosseiramente as minhas afirmações feitas a propósito do surto de legionela, ocorrido recentemente no hospital S Francisco Xavier.

Referi-me então às fragilidades do Estado, a propósito de acontecimentos recentes-Tancos, incêndios e legionela. Afirmei que o Estado está pouco preparado para enfrentar o risco crescente na nossa vida quotidiana, pois temos pouco rigor nos instrumentos de prevenção.

Essa ideia ressalta, aliás claramente, do que por mim foi dito quanto à extensão desproporcionada da responsabilidade política, também por mim referida na mesma intervenção, tantas vezes reclamada, sem atender às circunstâncias concretas de cada caso e sujeitando os governos a uma pressão insustentável e em muitos casos injustificável por parte da opinião pública.  A "transcrição" do vosso jornal confunde duas noções bem diversas - fragilidade do Estado e fragilidade do Governo. Claro que uma tem como consequência, mesmo indirecta, a fragilização dos governos. Não especialmente deste; de todos, chamados que são a enfrentar problemas bem evitáveis com mais rigor na aplicação de instrumentos existentes, precisamente para fazer face ao risco crescente nas sociedades modernas.

Agradecia a VExa a publicação desta precisão, pois ela reflete todo o sentido da minha intervenção - fragilização crescente do Estado para enfrentar muitos problemas evitáveis com acrescido rigor na aplicação de regras de avaliação e prevenção de risco.

José Vera Jardim

 

Discriminações

Um dirigente de um sindicato de professores veio proclamar urbi et orbi que os professores do ensino público (básico e secundário) estavam a ser discriminados comparativamente com as demais carreiras do Estado - quadros técnicos das carreiras gerais, cuja formação é semelhante. Essa declaração é patética pela forma ardilosa com que omite todo o resto e cuja diferenciação é abissal.

Os professores ingressam no emprego público sem realizar qualquer aferição - a prova de avaliação de capacidade de conhecimentos foi retirada -, ao contrário de um jurista, economista, arquitecto ou engenheiro, que são obrigados a fazer uma prova semelhante. para poderem ser admitidos na administração central ou local.

As progressões dos professores nos escalões têm a duração de 4 ou 2 anos de tempo de serviço e nas carreira gerais as progressões - por quotas efectivas e não virtuais - levam em média 10 anos. Ou seja, no caso presente o descongelamento de 9 anos dos professores irá permitir a subida de dois patamares na carreira, ao passo que nas carreiras gerais esse tempo não serve sequer para alcançar a posição seguinte.

Por isso mesmo, o tempo médio para atingir o topo da carreira docente é de 34 anos, ao passo que um técnico superior nas carreiras gerais necessita só de... 120 anos. Esta situação configura um verdadeiro apartheid laboral, perpetrado e assumido por um governo que se intitula pela retórica que emprega, de campeão dos direitos laborais.

Rui M. Alves, Lisboa

 

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