Padre do Funchal não tem que abdicar da paternidade, diz D. Manuel Clemente

Cardeal-patriarca de Lisboa corrobora posição de bispo do Funchal, a quem caberá a palavra final: padre que foi pai deve escolher se quer voltar ao celibato. Mas isso “não significa abdicar da paternidade” defendeu D. Manuel Clemente no fim da Assembleia Plenária da Conferência Episcopal.

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O cardeal-patriarca de Lisboa comparou situação de padre que foi pai aos casos de crianças fora do casamento que "não têm que pôr em causa" vida familiar Nelson Garrido

O cardeal-patriarca de Lisboa D. Manuel Clemente admitiu que o padre do Funchal Giselo Andrade, que em Agosto foi pai e o assumiu, não tem de abandonar o sacerdócio "desde que cumpra o celibato". Isso “não significa abdicar da paternidade porque a criança é reconhecida como filha e ele é conhecido como pai”, acrescentou.

Apesar de D. Manuel Clemente ter respondido às perguntas dos jornalistas sobre o caso do padre Giselo Andrade, o assunto não foi abordado durante a Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), que começou em Fátima na segunda-feira e foi resumida em Lisboa, nesta quinta-feira.

Era esperado que o tema do celibato, que voltou ao debate em sequência do caso do padre do Funchal que perfilhou a criança nascida em Agosto, fosse debatido pelos bispos. Mas não foi, nesta assembleia, “nem devia ser”, disse o também presidente da CEP que lembrou que na Igreja latina os padres são escolhidos entre quem tem vocação celibatária. Isto é assumido como ideal “e, tanto quanto possível, como prática”, lembrou.

Porém, admitiu: se um padre tem “uma quebra momentânea, de infidelidade, as responsabilidades têm que ser assumidas”. “A continuação [no sacerdócio] pode acontecer se houver vontade de fazer as coisas com mais consciência e responsabilidade."

D. Manuel Clemente comparou a situação aos casais católicos que se comprometem à fidelidade “mas, por vezes, acontece alguma coisa e nasce uma criança fora do matrimónio”. Referiu: “Tem que assumir a responsabilidade em relação à criança mas isso, só por si, não significa que se destrua a vida familiar.”

O nascimento de uma menina, fruto de uma relação com uma antiga colega de Giselo Andrade na escola secundária, já era conhecido pela Diocese do Funchal mas só recentemente foi divulgado pelos media. E está em análise.

D. Manuel Clemente diz que estas situações são tratadas “pelo respectivo bispo", até porque "todas as dioceses são autónomas”. Mas fez saber que corrobora o que disse “o bispo do Funchal” sobre o assunto, ou seja, que “tem que se verificar qual a disposição e convicção [do padre] para continuar, retornando ao celibato, com as responsabilidades que tem que assumir em relação à criança que nasceu”.

"O mundo de hoje não tem lugares recônditos"

Questionado sobre se isso significaria que a filha do pároco deveria ser acompanhada pelo pai, independentemente do celibato, respondeu: “A criança sabe quem é o seu pai, vão-se encontrar certamente, o mundo de hoje não tem lugares recônditos.”

Quanto à eventual necessidade de a CEP, órgão que reúne os bispos nacionais, adoptar normas claras sobre os procedimentos em casos semelhantes respondeu que cada caso deve ser analisado individualmente.

Já quanto ao seminário de jovens homossexuais D. Manuel Clemente foi peremptório: disse que o tema não esteve na agenda, já que o clero “desaconselha vivamente, para não dizer proibir, que um jovem que manifeste orientação homossexual ingresse num seminário”. Mesmo que o sacerdócio implique necessariamente celibato. “É melhor não criar a ocasião”, referiu. 

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