Marcelino Toral entrou de rompante na história do Valência

Clube "Che" bateu o Leganés e somou a sétima partida consecutiva a vencer, um marco nunca antes alcançado. Gonçalo Guedes voltou a ser titular.

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Marcelino Toral Albert Gea/Reuters

Nunca se viu nada igual na história quase centenária do Valência. O clube alcançou este sábado o sétimo triunfo consecutivo na liga espanhola, ao bater o Leganés, por 3-0, um feito inédito que não logrou atingir nem nas seis temporadas em que conquistou o título doméstico (1941–42, 1943–44, 1946–47, 1970–71, 2001–02, 2003–04). Os adeptos estão eufóricos pela imbatibilidade da equipa no campeonato, que a coloca no segundo lugar da tabela na perseguição ao líder Barcelona. O sucesso tem um nome: Marcelino Garcia Toral, o treinador asturiano que chegou esta época para reconduzir os “Che” aos sucessos que marcaram o início deste século.

Foi precisamente na Comunidade Valenciana que Toral alcançou reconhecimento dentro e fora de Espanha, ao serviço do modesto Villarreal. Tudo começou na época 2012-13 quando resgatou a equipa da província de Castellón do segundo escalão e a devolveu ao convívio com os grandes de forma sustentada. Dois sextos lugares, em 2013-14 e 2014-15, e um brilhante quarto posto, em 2015-16, que levou o “submarino amarelo” a discutir a entrada na Liga dos Campeões. Mas, inesperadamente, a 10 de Agosto do ano passado, ainda sem qualquer partida oficial disputada, surgiu o divórcio e o fim do sonho do treinador em disputar uma liga milionária.

“O meu despedimento foi um pouco surpreendente face aos resultados do Villarreal, que foram extraordinários”, admitiu na altura: “Começámos na segunda divisão, em Janeiro de 2013, com uma equipa com grandíssimas dificuldades, com a ansiedade e a obrigação de subir, algo que foi conseguido. Na primeira temporada na Liga principal, contra prognósticos, fomos sextos. Na seguinte voltámos a ser sextos e jogámos as semifinais da Taça do Rei pela primeira vez na história do clube. E na [minha] última época fomos quartos na Liga e chegámos às semifinais da Liga Europa [onde foram eliminados pelo Liverpool]. Depois de tudo isto, esperas continuar.”

Mas os dirigentes do Villarreal não tiveram condescendências no Verão de 2016, eventualmente sensíveis a pressões de alguns jogadores mais críticos com os métodos de Toral. Esfumou-se também uma ambição antiga do técnico em atingir uma Champions, sete dias antes de disputar o play-off de acesso com o Mónaco, que acabou por afastar os espanhóis. E ainda pior, o técnico ficou impedido de treinar qualquer outra equipa da liga, face à regra espanhola que impede um treinador de ser inscrito por dois clubes distintos na mesma temporada.

Foi uma travessia do deserto para Toral, que recusou um convite da China por considerar que “emigrar para o Extremo Oriente equivalia a uma jubilação” antecipada. Mais atraente foi uma proposta que chegou em Novembro do ano passado de Itália, pela mão do Inter de Milão. Esteve tudo praticamente acertado para substituir o holandês Frank de Boer, mas as reservas de alguns dirigentes do histórico clube lombardo sobre as competências do espanhol acabaram por abortar a sua contratação.

Quem agradeceu foi o Valência, que encontrou o homem perfeito para conduzir uma profunda renovação do plantel. Os resultados falam por si. Em 11 jornadas, venceu oito partidas e empatou três, entre as quais uma com o Real Madrid no Santiago Bernebéu (2-2). Mas não são apenas os resultados que têm sido históricos e marcam o melhor arranque de época de sempre da equipa. Com 30 golos apontados (a uma média de 2,7 por encontro), o Valência é o melhor finalizador da competição, com mais dois do que o Barcelona, que tem uma partida a menos.

Descrito como um técnico exigente, que retira o máximo dos seus jogadores, o asturiano Toral, de 52 anos, está a encantar os adeptos valencianos e parece ele próprio encantado por ter reencontrado o sucesso no Mestalla. “Apaixona-me encontrar soluções e este trabalho exige-as constantemente. Ficas absorvido numa dinâmica de solucionar situações para tentar melhorar o jogador e a equipa. E nessa busca tento ser melhor também”, disse em Março deste ano, citado pelo El País.

Métodos que têm sido bem absorvidos pelo jovem internacional português Gonçalo Guedes, que chegou esta época a Valência, por empréstimo dos franceses do PSG. Tem sido um jogador em destaque na equipa, tendo apontado três golos. As exibições do avançado ex-benfiquista, que voltou este sábado a ser titular, têm agradado e já se fala no interesse do Real e Atlético de Madrid.

“É sempre bom saber que as equipas grandes estão atentas ao meu trabalho, mas não estou a par. Não sei nada do meu futuro”, respondeu o jogador, de 20 anos, no final do mês passado. Mas manifestou também o desejo de continuar a ser moldado por Toral: “Gostaria de ficar no Valência. Estou muito bem aqui, tratam-me muito bem.”

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