Um presidente de uma Junta de Freguesia pode ser muito mais do que um simples autarca. É o caso de António Joaquim Reis, presidente da junta das Cardosas. Em entrevista ao PÚBLICO, o autarca explica que faz todo o tipo de trabalhos. Ajuda no cemitério, porque não têm um coveiro, pinta em cima de andaimes, transporta pessoas até à farmácia ou ao hospital, ou participa mesmo na limpeza do mato à volta das estradas. “Este é um meio rural, somos poucos, há falta de pessoal”, por isso António Joaquim Reis é conhecido pela população como um homem dos sete ofícios.

A freguesia das Cardosas tem menos de 900 habitantes e seis quilómetros quadrados de área. É uma sobrevivente da reforma administrativa efectuada em 2013, porque ficaram de fora do processo de agregação os concelhos com quatro ou menos freguesias, como é o caso de Arruda dos Vinhos.

Nas Cardosas, os recursos são escassos, por isso António Joaquim, como é conhecido pela população, divide as horas do seu dia com outras tarefas, também como uma forma de poupar no orçamento da junta, que passou dos cerca de 96 mil euros, em 2009, para um orçamento que hoje não chega aos 55 mil euros.

Este corte de verba foi imposto pela administração central, porque o município não cumpriu os limites do endividamento, ao abrigo da Lei das Finanças locais. A câmara foi assim obrigada a cumprir as restrições do Programa de Apoio à Economia Local (PAEL), tendo conseguido, recentemente, sair do programa, depois da redução da dívida municipal. “É um orçamento pequeno, não há dinheiro para tudo. Mas havendo boa vontade, consigo gerir bem o tempo e ajudar”, admite o autarca.

Técnico de qualidade numa empresa da indústria aeronáutica, em Alverca, António Joaquim Reis foi eleito em 2009 pelo PSD, estando a chegar ao final do seu segundo mandato. Está a fazer campanha autárquica, mas reconhece que quando desempenha o cargo de presidente, a política fica para trás das costas: “Eu costumo dizer que a minha bandeira só surge no dia das eleições, não ando a fazer muita publicidade, até porque infelizmente o meu partido está um bocadinho queimado”.

António Joaquim acaba por dar mais valor ao lado humano da política, sendo um exemplo de proximidade entre autarca e seus eleitores. “As pessoas conhecem-me. Muitas vezes até vêm ter comigo para pedirem para passar lá em casa para os ajudar em alguma coisa”.

Prestes a completar 60 anos em Outubro, e com os dias bem preenchidos, seja no trabalho de presidente, no emprego, ou a ajudar na freguesia, o autarca diz que a idade já lhe pesa nas costas e na idade. “Às vezes é difícil para mim, ter de me levantar às 7h45 e depois chegar a casa à meia-noite. Uma pessoa fica mais cansada.” Mas o presidente da junta de freguesia das Cardosas não tenciona, por agora, parar. “Quero continuar. Espero ser eleito para um terceiro mandato a 1 de Outubro”.