Schulz recusa nova coligação e deixa Merkel perante hipótese nunca antes tentada na Alemanha

A CDU/CSU de Angela Merkel venceu as eleições alemãs de domingo com o terceiro pior resultado de sempre para os democratas cristãos. E a extrema-direita tornou-se na terceira força política nacional.

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Apoiantes dos Verdes reagem à subida acentuada da extrema-direita indicada pelas primeiras projecções Reuters/STEFANIE LOOS

A sede da CDU, em Berlim, ainda gritou em apoio quando saíram as primeiras projecções da televisão pública ARD, após o fecho das urnas na Alemanha, às 17h de Lisboa. Mas ao ficar em 32,5%, o resultado era tudo menos o esperado: antes de domingo, as sondagens tinham dado à CDU/CSU (que junta a União Democrata Cristã e União Social Cristã, que concorre só na Baviera) valores bem mais altos, nunca abaixo dos 34%.

Nas eleições de 2013, a CDU/CSU teve 41,5% dos votos, ficando perto de uma maioria absoluta, o que seria uma verdadeira raridade na Alemanha, que teve apenas um governo deste género em 1957. A descida agora assinalada em 2017 é marcada.

O Partido Social-Democrata (SPD), que concorreu com Martin Schulz, vindo da presidência do Parlamento Europeu e que não conseguiu manter uma onda de entusiasmo que se seguiu ao anúncio-surpresa da sua candidatura, ficou em segundo com 20% dos votos, de acordo com as primeiras projecções.

É um resultado que merece um adjectivo forte. É desastroso. Em 2013, o SPD ficou num longínquo segundo lugar com 25%, e acabou por entrar numa “grande coligação” com a CDU, como tinha feito em 2005-2009, apesar dessa primeira participação ter contribuido para que nas eleições de 2009 os sociais democratas tivessem registado o seu pior resultado até àquela data, com 23%.

A terceira força política a sair das eleições deste domingo é claramente o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla alemã), com 13,5%. Perante esta projecção, o silêncio foi marcado na sede da CDU em Berlim.

A AfD, criada em 2013 como um partido de oposição à política de resgates financeiros aos países do euro em dificuldades, tinha então ficado a pouco de entrar no Parlamento (que estabelece um limiar de 5% dos votos), com 4,7%.

O que esta votação de hoje significa é que o partido, racista e anti-imigração, vai receber fundos federais como todos os partidos com assento parlamentar, tornando-o numa força permanente na política alemã: mesmo que não se antecipe que possam fazer um grande trabalho no Parlamento (porque não têm quadros suficientes e têm tido vários problemas internos), vão ter uma estrutura verdadeiramente nacional e vão poder ter verbas para a cimentar.

Os liberais voltam ao Parlamento depois de terem ficado fora após as últimas eleições, o que aconteceu pela primeira desde a sua criação em 1949. O novo líder, Christian Linder, mostrou-se favorável a medidas duras em relação aos países do euro alvo de programas de resgate e também na imigração, e terá sido recompensado com uma votação de 10%, segundo a projecção da ARD.

Seguiram-se os Verdes com 9,4% e Die Linke (A Esquerda) com 8,9%. Die Linke foi em 2013 o terceiro partido com 8,4%, seguido de perto pelos Verdes com 8,4%.

Para Merkel, e depois do SPD ter dito que estava oficialmente fora da grande coligação governamental com a CDU/CSU, a única opção é uma chamada coligação "Jamaica" de 348 deputados com os liberais e os Verdes, o que seria uma estreia a nível nacional. 

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