Obra abandonada de Cabrita Reis vai ter nova vida em Coimbra

Longer Jouneys era para estar em exibição três meses e acabou por ficar 13 anos, sem manutenção. Câmara vai pagar 71 mil euros para a recuperar e vai colocá-la no Convento de São Francisco

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A peça vai ser transferida para o terreiro do Convento de São Francisco Sérgio Azenha

A obra Longer Journeys, de Pedro Cabrita Reis, vai fazer uma curta viagem para ser reinstalada em frente ao Convento São Francisco (CFS), em Coimbra. A peça que começou por ser exibida num espaço supostamente provisório, no pátio em frente ao Centro de Artes Visuais (CAV), acabou por ali ficar durante mais 13 anos, durante os quais se foi degradando.

A vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Coimbra, Carina Gomes, anunciou na segunda-feira, durante a reunião do executivo, que o restauro iria avançar a partir desta terça feira, sob as indicações do artista plástico.

A obra que fez parte da representação portuguesa da 50.º edição da Bienal de Veneza, em 2003, estava instalada no Pátio da Inquisição, exposta às condições climatéricas, desde Dezembro desse ano, tendo sido depois oferecida à autarquia de Coimbra.

A iluminação já não funcionava e faltavam-lhe também várias portas e parafusos. A intervenção que deverá levar cerca de uma semana e meia inclui a desmontagem e limpeza da peça, substituição dos parafusos, transporte e montagem na Praça das Bandeira (em frente ao CFS), a colocação de 15 novos painéis em alumínio, a colocação de 60 lâmpadas LED e a instalação eléctrica.

Para tal, o município vais despender 71 mil euros. Carina Gomes admite que “o custo é substancial”, mas sustenta que se trata “de uma obra de arte de uma empresa com que o artista trabalha em exclusividade”. Pedro Cabrita Reis explica ao PÚBLICO por email que a sua parte do trabalho é pro-bono, sendo que a quantia é paga à empresa que vai proceder aos reparos. A vereadora acrescenta que a nova localização foi indicada pelo autor, que por sua vez sublinha a “nova vida que a escultura irá ter no novo lugar para ser apreciada pelo público”.

O artista plástico fala em repor a dignidade à sua peça. Longer Journeys foi uma das duas peças de Cabrita Reis no Pavilhão de Portugal em Veneza, mas, depois de ser instalada em Coimbra, passou por “um um longo e penoso processo do qual foram vitimas a própria obra de arte, a cidade” e o próprio Cabrita Reis, afirma o artista, atribuindo ainda as “responsabilidades desta infeliz circunstância” à “história política da cidade de Coimbra dessa altura”. Em 2003, era o social-democrata Carlos Encarnação que presidia à autarquia.

O director do CAV, Albano da Silva Pereira, congratula-se com a intervenção na peça. O responsável pela instituição já tinha apontado várias vezes para o estado da obra, falando na “degradação vergonhosa” em que se encontra. Silva Pereira considera “lamentável e gravíssimo que se tenha demorado tanto” a encontrar uma solução para “uma obra desta qualidade”.

“Teria gostado é que [o anúncio] tivesse sido fora do período de eleições, mas mais vale tarde do que nunca. Custava-me entrar no CAV e ver uma escultura de um dos grandes artistas contemporâneos naquele estado”, aponta.

A actual vereadora da Cultura refere a agenda preenchida do artista plástico para justificar que só agora se avance para a intervenção. “Aconteceu agora. Não é por ser em final do mandato, é porque tinha que ser”, afirma a vereadora, que refere ainda que o primeiro contacto com Pedro Cabrita Reis sobre esta questão se deu em 2015, quando esteve na cidade para a bienal de arte contemporânea.

Sobre a eventualidade de a obra se degradar mais facilmente se for montada fora de quatro paredes, Cabrita Reis explica que esta foi “concebida desde o início como uma peça a instalar igualmente no interior ou no exterior”, onde ficará agora. 

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