O apresentador que deu o mesmo tempo de antena a Ruth Marlene e aos Madredeus

Depois de 40 anos em dezenas de programas de televisão e rádio, Carlos Ribeiro divide-se entre Lisboa e a Ericeira, faz algumas locuções e alguns espectáculos pelo país. "Sinto-me bem. Foi bom enquanto durou", garante o antigo radialista e apresentador.

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Difícil seria algum português não saber quem é. Até os mais novos podem não chegar lá pelo nome, mas se virem uma imagem reconhecem-no imediatamente. Com 40 anos de carreira, a voz e a cara de Carlos Ribeiro entrou pelas casas portuguesas dentro durante décadas. Hoje, afastado dos holofotes, faz pontualmente locuções, ou voz-offs, divide-se entre Lisboa e a Ericeira e apresenta alguns espectáculos pelo país. Mas, olhando para trás, Carlos Ribeiro tem apenas uma conclusão: “Foi bom enquanto durou. Foram 40 anos, já não foi mau!”.

Para referir em pormenor toda a carreira, todas as estações de rádio e todas as produções de televisão por onde passou Carlos Ribeiro talvez fosse necessária uma edição especial do PÚBLICO. Por isso, basta dizer que tudo começou aos 19 anos na Rádio Universidade. “Nessa altura não havia praticamente cursos superiores de comunicação social. Era um bocado cada um por si”. E o ponto de partida foi comum a outras caras conhecidas dos portugueses. “Da minha geração recordo o Joaquim Furtado ou o Henrique Garcia. De uma geração mais avançada já tinham passado por lá o Carlos Cruz, o Fialho Gouveia… uma série de profissionais”.

Depois seguiram-se dois anos em Angola. Durante o serviço militar esteve ligado a programas de rádio para militares e depois para civis. No final de 1974 regressou a Portugal. “Foi a Maria Leonor, que era uma grande senhora da rádio e da televisão em Portugal nos anos 70 e 80, que me deu a mão e comecei nos primeiros anos como jornalista na RDP, antes de entrar para a televisão, e na Rádio Renascença. Mais tarde troquei a RDP pela televisão, no início da formação do segundo canal – isto em 1978. E continuei sempre a acumular com muitas estações de rádio – passei pela RDP, Comercial, RR, Rádio Nacional, Rádio Metropolitana. Rádios foram muitas ao longo de 40 anos”, conta em conversa com o PÚBLICO.

Portas abertas para a música popular

Depois do jornalismo, passou para a área do entretenimento, que era a sua “intenção maior”. Seguiram-se 27 anos na RTP, dez na TVI e um na SIC. No universo da televisão, abriu portas a um estilo musical que se propagou pelo país: a chamada música popular. “Digamos que fui um dos pioneiros da abertura - chamem-lhe o que quiserem chamar: no princípio era pimba, depois era ligeira, depois era popular - com o célebre programa Made In Portugal, em 1995, numa altura em que os cantores populares pouco iam à televisão. Fui um dos pioneiros e um dos dinamizadores da corrente mais popular que casava com outras áreas da música portuguesa. Lembro-me que no Made In Portugal tão depressa se falava da Ágata, ou do Vitorino, da Ruth Marlene, ou do Pedro Abrunhosa ou dos Madredeus". No fundo, “foram as primeiras portas que se abriram a uma área mais popular”.

Agora, a pergunta que se impõe e que se exige quando se fala numa carreira tão longa e preenchida. Quais foram os pontos altos? “Houve uma época muito interessante. Logo no início da década de 80 em que fizemos a série os Quarentões. E uma série de programas infantis, como o Jornalinho, que era visto como o telejornal dos mais novos, que foi praticamente inovador. Depois com uma série de concursos do Arco-Íris, que era apelidado de 123 das crianças e que também durou aí uns três anos. Quem tem uns 35/40 anos lembra-se bem dessas produções. E era muito emocionante ver que as escolas quase paravam quando o Jornalinho as visitava para fazer divulgação”, recorda. “Acho que essa altura foi muito marcante na minha carreira”, remata o antigo radialista e apresentador televisivo.

Para além de tudo isto, ainda apresentou o Festival da Canção ao lado de Lúcia Moniz em 1998. A entrar na segunda década do século XXI, começou o afastamento.

“Foi bom enquanto durou”

A separação, que pode ser datada em 2010, foi provocada pelos dois lados: por si próprio e por quem mandava. “Abandonei, aquilo que eu chamo em jeito de graça, a carreira artística. Sabe que eles também nos abandonam. Quem manda também começa a deixar de nos chamar e pretende procurar sempre os mais novos e mais baratos. De forma que eu também desanimei um pouco”, admite. “Por um lado, deixei de contar com eles e eles deixaram de contar comigo.”

Agora, a vida divide-se entre Lisboa e Ericeira, e em termos profissionais faz locuções ou espectáculos pelo país fora: “Praticamente parei. Pontualmente faço locuções, a chamada voz-off e faço alguns espectáculos. Actualmente vivo entre Lisboa e Ericeira, onde passo uns quatro meses por ano”. Se alguém quiser matar saudades de Carlos Ribeiro ainda o pode fazer. E pode ser já na Ericeira nos próximos dias. “Vou agora apresentar durante dez dias as festas da Ericeira”. O tempo não é preenchido apenas com isto: “Aproveito para privar com os netos e com os amigos. Dos 40 anos, foram quase 25 a levantar-me às 4h30 da manhã para entrar na rádio às 6h00”.

“Estou bem. Sinto-me bem. Às vezes, claro, morde o bichinho. É uma coisa difícil de se perder”, admite. “Foi bom enquanto durou. Foram 40 anos. Já não foi mau!”, remata.

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