Os gatos e as pessoas

Não há separações artificiais e decorosas de seres humanos, gatos e outros animais. A maneira como conseguem coexistir não é nenhum conto de fadas.

Se está disposto a ler só um livro sobre gatos, para ficar com uma boa ideia de como conviver com eles, recomendo Cats Behaving Badly de Celia Haddon. É encantador e faz rir, mas ajuda a compreendê-los. Às vezes as soluções para certos problemas são extremistas, mas, como explica a autora, as alternativas ainda são piores.

Celia Haddon aprendeu a gostar de gatos. Foi convertida por um deles e, a partir daí, tornou-se uma intérprete de gatos. Claro que não cai no erro de pensar que é capaz de os compreender. Limita-se, com riso e sensatez, a imaginar o ponto de vista de cada indivíduo.

O livro dela mais recente é Toby, The Cross-Eyed Stray, de 2015. Conta a história curiosa deste gatinho, mas é muito mais do que isso: é uma autobiografia profundamente honesta e corajosa em que se relatam as experiências mais difíceis e dramáticas da vida: as mortes de pai, mãe e marido. Há um retrato implacável do marasmo alcoólico em que ela se afundou e de como conseguiu sobreviver.

Com a dura sobriedade chega o primeiro gato. Não há separações artificiais e decorosas de seres humanos, gatos e outros animais. A maneira como conseguem coexistir não é nenhum conto de fadas. Não há pérolas de sabedoria, fórmulas fáceis ou pílulas douradas.

O título Toby, The Cross-Eyed Stray não podia ser mais enganador. É um livro sobre o amor, a vida e a morte. Não é um livro sobre um gatinho. É um livro sobre os melhores e os piores momentos daquelas pessoas e daqueles gatos. Mais não se poderia pedir.

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