O céu é o limite para “Mondo” Duplantis

O adolescente norte-americano de 17 anos que compete pela Suécia já é um dos melhores da actualidade no salto com vara e vai estar na final dos Mundiais de atletismo.

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Reuters/KAI PFAFFENBACH
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No salto com vara nem todos começam à mesma altura. Cada um escolhe a altura da fasquia em que quer começar e, nas qualificações, os melhores quase sempre só iniciam a prova em patamares elevados, fazem um salto ou dois e fecham a loja. Foi o que fez, por exemplo Renauld Lavillenie, o recordista mundial, na qualificação da vara nos Mundiais de atletismo, em Londres. Era pedido o salto a 5,75m e o francês só iniciou a 5,60m. Passou à primeira, esperou um pouco e voltou a passar à primeira nos 5,70m. Quem está menos habituado a estas coisas, começa por baixo e um deles foi Armand “Mondo” Duplantis, adolescente norte-americano que compete pela Suécia. 

“Mondo” tem apenas 17 anos, é um prodígio do salto com vara — tem um recorde pessoal de 5,90m, terceira melhor marca do ano, e há quem o dê como potencial medalhado já em Londres — e vai estar na final de hoje, ao lado de Lavillenie, mas quase foi traído pela pressão da estreia. “Pronto, acabou-se, já passei por isto, não quero passar outra vez”, dizia o jovem americano, que só passou à terceira a 5,30m, para depois se qualificar com um terceiro salto a 5,70m. “Estava fora de ritmo, a pensar nas coisas erradas. Tinha a cabeça cheia”.

Chamam a “Mondo” Duplantis o Tiger Woods do salto com vara e os paralelismos com o golfista são muitos. Ambos começaram em criança, ambos foram treinados pelos pais e ambos se revelaram prodígios desde cedo. No caso de Mondo, o pai/treinador é também um antigo saltador de muitos méritos, Greg Duplantis, que tem um recorde pessoal de 5,80m e, mesmo não competindo há 20 anos, ainda está nos 25 melhores norte-americanos de sempre. E a mãe, uma antiga atleta sueca do heptatlo e do salto em altura, é quem trata da preparação física. 

“Às vezes ele porta-se como uma criança que não quer ir para a cama. Mas a verdade é que ele ainda é uma criança, ainda não amadureceu fisica e mentalmente”, conta ao PÚBLICO Greg Duplantis, o pai que montou no quintal de casa, no Louisiana, tudo o que os filhos precisavam para fazer salto com vara — e todos, três rapazes e uma rapariga, passaram pelo evento. “De todos os meus filhos, foi ele que mostrou mais entusiasmo. Não é a modalidade mais óbvia para um miúdo começar a fazer desporto, é uma modalidade difícil e assustadora, mas na família Duplantis é normal.”

“Mondo”, basicamente, não teve alternativa, mas adoptou a modalidade como algo que era natural para ele. “Como comer um prato de sopa”, diz o pai. “É preciso ser temerário e o ‘Mondo’ não tem medo. Se é preciso usar uma vara maior, saltar mais alto, ele diz, vamos a isso”, acrescenta. Estar nas alturas era algo que “Mondo” aceitava sem reservas, e, mesmo em criança, metia-se em sarilhos por causa disso. Subia às árvores, aos telhados, era um miúdo hiperactivo que estava sempre a correr de um lado para o outro, que gostava de jogar futebol e beisebol. “Sempre foi um miúdo travesso que gostava de pregar partidas a toda a gente e os irmãos também eram assim.”

Olhando para “Mondo” ao lado da concorrência mais experiente, à primeira vista parece deslocado. É alto, como todos os varistas, mas é mais esguio que a maioria, geralmente gente de ombros largos e braços musculados. Com tudo o que tem passado, sendo ele um atleta de classe mundial aos 17 anos, o norte-americano é, segundo o pai, na medida do possível, um adolescente normal. “Tem uma vida equilibrada, tem amigos. Claro que não pode ficar acordado até tarde, nem pode estar sempre a ir a festas. E não estamos sempre a falar de salto com vara, não falamos disso quando estamos a jantar”, conta Greg Duplantis.

E porque é que um miúdo norte-americano escolheu saltar pela Suécia, em vez de representar os EUA? “É o melhor para ele”, responde o pai. “O atletismo é muito celebrado na Europa e na Suécia e pouco nos EUA, essa foi uma das coisas que o atraiu na Suécia. A mãe é sueca, ele tem uma dupla herança. E ele é mais conhecido na Suécia que na sua cidade natal”, acrescenta. E depois dos Mundiais? “Vai voltar a casa e vai acabar o liceu. A não ser que alguma coisa louca aconteça.” E até onde pode chegar? “Não sei. 5,90m aos 17 anos? Parece uma loucura! Quanto mais alto, mais difícil, mas ele quer chegar aos 6m no próximo ano.”

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