O check-in no Room 104 do motel televisivo

Série dos irmãos Duplass estreia-se na madrugada de sexta para sábado, em simultâneo com os EUA, como um tira-gosto da televisão serializada. Colheradas de meia hora de histórias independentes, do medo à dança.

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Pedir a chave do quarto 104 é comprar um bilhete para várias viagens neste Verão. O quarto é sempre o mesmo, os hóspedes mudam e os géneros televisivos também. Há uma babysitter para o terror, bailarinas para a imaginação, um pesadelo familiar sob a forma de uma única cópia de um documento vital que é preciso salvar de um computador e até artes marciais. Há, sobretudo, pequenas doses de 20 a 30 minutos de televisão com a qualidade libertadora de serem independentes entre si.

Num momento com tanta televisão e tantas séries que implicam um compromisso de semanas ou leituras aturadas, o sorvete de limão entre pratos mais exigentes tendem a ser outros programas e, no campo das séries, os procedurals e as sitcoms para descansar o palato e a mente televisiva. Esta é uma imagem possível – a outra é dizer que Room 104, que se estreia na madrugada desta sexta-feira para sábado às 4h30 e repete depois aos sábados à noite às 21h30, é como “o Tinder da televisão” ou “a roleta russa da televisão”, nas palavras dos dois criadores, argumentistas e produtores da série da HBO, Jay e Mark Duplass.

É uma série de antologia, limitada aos seus 12 episódios (a imprensa só viu seis deles) e que na sua duração de sitcom e nos seus diferentes tons faz pensar mais em High Maintenance do que em The Night Of. Ou seja, tal como High Maintenance, a comédia nascida na web promovida a série de TV sobre um entregador de marijuana ao domicílio que não é mais do que a porta que se abre para diferentes vidas e facetas de Nova Iorque, Room 104 tem como dispositivo um quarto numa cadeia de motéis que é o seu cenário. Mas as histórias que conta sobre esse pano de fundo neutro são sempre distintas, as personagens sem ligação e a sua filosofia é resolutamente independente.

O episódio Voyeurs, o número 6, é aquele de que todos, PÚBLICO incluído, falam. A coreógrafa Dayna Hanson escreveu e realizou uma peça de dança e interpretação entre duas mulheres que flutua no ecrã, merecedora de elogios e o pico numa curva de avaliação que torna por vezes mais evidentes as fraquezas de outros episódios. Há mórmons, octogenários, sexo, homicídio, bolo com creme e comida chinesa, uma lista tão boa quanto qualquer outra para os irmãos Duplass servirem aos espectadores do TVSéries. Trazem actores secundários e directores de fotografia para os lugares de protagonista e realizador (não realizaram qualquer episódio), estrelas do passado ou ilustres desconhecidos para contar as suas histórias. São as primeiras depois da série cancelada Togetherness e da animação de Animals, e um regresso às raízes de mais baixo orçamento dos irmãos, autores de Manson Family Vacation (2015) e outros filmes estreados entre o South by Southwest ou o Festival de Sundance.

Nesta altura de avalanche televisiva, mesmo no Verão em que tradicionalmente há menos estreias e tempo para sair do ecrã ou rever a matéria perdida, “queremos que Room 104 seja como a experiência de uns encontros casuais”, disse Mark Duplass na semana passada nos encontros com a imprensa da Television Critics Association, “o Tinder da televisão”, em que se passa de rosto e história em história num ecrã.   

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