Histórias do Tour: será Calmejane o sucessor de Voeckler?

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LUSA/ROBERT GHEMENT

No domingo, quando espreitou a banca dos jornais, o francês comum deparou-se com o rosto vagamente desconhecido de um tipo jovem, de profundo negro vestido. O sorriso feliz e os braços erguidos de Lilian Calmejane estavam plasmado em todos e cada um dos diários nacionais. Mas quem é, afinal, este homem que se apressou a pedalar para o coração dos gauleses na iminência da retirada dos seus colegas, os carismáticos (e veteranos) Sylvain Chavanel e Thomas Voeckler? Tem a palavra o próprio: “Sou demasiado pesado [tem cerca de 68 quilos] para ser trepador e demasiado leve para ser sprinter. Não consigo saber precisamente o que sou, estou um pouco perdido. Talvez possa definir-me como um corredor polivalente, que continua a melhorar no contra-relógio”.

Nascido em Albi, a 6 de Dezembro de 1992, numa família sem ligações ao ciclismo, o corredor da Direct Energie não encaixa nas predefinições existentes no pelotão. É, sim, um daqueles ciclistas-coração, que tem a alma ligada às pernas, que é um predador de etapas e que prende milhões de espetadores ao ecrã, encantados diante de um festival de audácia e combatividade. Calmejane até pode ser um ciclista fora da caixa, mas faz aquilo que poucos conseguem: ganhar. Só este ano, o jovem francês já leva sete vitórias – apenas os sprinters Marcel Kittel, Arnaud Démare, Edvald Boasson Hagen e Fernando Gaviria e o portento Alejandro Valverde têm mais.

Quem o viu nos juniores, estaria longe de imaginar que aquele miúdo demasiado franzino, que começou no ciclocrosse, poderia ser o próximo ídolo francês. “Tinha o mesmo temperamento que tenho hoje, mas era demasiado pequeno, demasiado frágil. Em dois anos [entre júnior e sub-23], cresci de 1,69 metros para 1,83 e comecei a ganhar”. Os inúmeros triunfos que somou então não passaram despercebidos a Benoît Genauzeau, o seu atual director desportivo, que o captou para a Vendée U, a filial da Direct Energie, em 2014.

A ascensão à equipa-mãe era uma questão de tempo: depois de um percurso de exceção nos sub-23, Calmejane foi anunciado como reforço da Direct Energie para 2016. Aconselhado pelos directores da formação francesa a encontrar um treinador, o espirituoso "Lilou" – são célebres as suas partidas, o humor desenfreado e os dotes de ator – recusou. “Apesar da minha tenra idade, sou capaz de me orientar”. A aposta no autodidatismo resultou. Logo no primeiro ano como profissional, alcançou algo que todos almejam, mas poucos conseguem: venceu uma etapa na Vuelta, depois de uma longa jornada em fuga.

A fasquia ficou bem alta, mas o novato francês decidiu subi-la exponencialmente. Este ano, na sua segunda temporada entre os ‘grandes’, ainda não parou de rechear o currículo: etapa e geral na Etoile de Bessèges, na Semana Coppi & Bartali e no Circuito de la Sarthe, e classificação da montanha no Paris-Nice. E, agora, uma etapa no Tour. Estará encontrado o sucessor de Thomas Voeckler? A julgar pelos títulos espraiados nas bancas, os franceses acreditam que sim.

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