A rara alma-negra está - mesmo - a colonizar os Açores

Foi confirmada uma nova colónia de uma espécie rara de ave marinha junto à ilha Graciosa pelos técnicos da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA).

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SPEA

A Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) confirmou nesta terça-feira a nidificação de uma ave rara na Europa na reserva natural do Ilhéu de Baixo, junto à costa da ilha Graciosa, nos Açores. A Bulweria bulwerii é conhecida pelo nome comum de alma-negra.

“Esta descoberta confirma as suspeitas da existência de outra colónia de alma-negra nos Açores, que até ao momento estava apenas certa no ilhéu da Vila em Santa Maria, onde nidificam 50 casais”, afirma Ricardo Ceia, doutorado em biociências e coordenador da SPEA Açores.

Tendo em conta a sua área de distribuição reduzida, a alma-negra é classificada como um espécie “em perigo” de extinção no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. Por isso, Ricardo Ceia salienta que a presença de “uma população tão pequena e restrita” no Ilhéu de Baixo é “extremamente importante para a sua conservação, pois caso aconteça alguma coisa à população de Santa Maria, esta colónia na Graciosa será a última esperança para a espécie nos Açores”.

A espécie distribui-se pelo nordeste do Atlântico e nidifica nos arquipélagos dos Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde (Macaronésia). Esta colónia será aquela situada mais a Norte.

A descoberta foi uma surpresa porque surgiu quando se estava a investigar outra espécie ameaçada - o paínho-de-monteiro (Hydrobates monteiroi), “a mais pequena ave marinha dos Açores e endémica do arquipélago”, segundo a organização que promove o estudo e a conservação das aves e dos seus habitats em Portugal.

No total, foram identificados 13 ninhos da alma-negra e a estimativa populacional é de 20 casais reprodutores. Os técnicos só tiveram a confirmação quando avistaram estas pequenas aves a incubar o seu único ovo (cada casal só tem uma cria) nos quatro ninhos acessíveis - os restantes ninhos não o são porque esta espécie “escava o ninho bem fundo em fendas e buracos”.

Em finais do Julho, é aguardada a eclosão dos ovos e, entre o fim de Setembro e o início de Outubro, as crias deverão viajar até ao hemisfério sul, “regressando à colónia por volta dos três anos”. Embora as visitas ao Ilhéu de Baixo se tornem regulares a partir dos três anos, o período da reprodução só se inicia aos sete.

De acordo com a SPEA, esta descoberta enquadra-se na pesquisas desenvolvidas pela organização em dois projectos resultantes da parceria entre várias entidades em três arquipélagos da Macaronésia (Açores, Madeira e Canárias), sendo que nos Açores para além da SPEA participam a Direcção Regional dos Assuntos do Mar (DRAM) e o Fundo Regional para a Ciência e a Tecnologia (FRCT). 

Texto editado por Ana Fernandes

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