Vitória indiscutível da Team New Zealand na 35.ª America’s Cup

Peter Burling ganhou de forma clara o duelo com Jimmy Spithill e, 17 anos depois, os “kiwis” voltaram a ganhar a “Auld Mug”

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Gilles Martin-Raget

Match point na America´s Cup. Quase quatro anos depois de São Francisco, seria expectável que esta frase provocasse suores frios aos neozelandeses, mas Peter Burling mostrou nesta segunda-feira por que é considerado um fenómeno da vela. Exorcizando um fantasma que assombrava a Nova Zelândia desde 2013, a Emirates Team New Zealand, liderada pelo skipper de 26 anos, mostrou uma superioridade indiscutível no duelo com a Oracle Team USA e, com um parcial de 7-1, garantiu nas águas turquesa da baia de Great Sound, nas Bermudas, a vitória na 35.ª America’s Cup.

A 15 de Setembro de 2013, quando a Team New Zealand venceu a sétima regata da 34.ª edição do mais antigo troféu do desporto internacional, nem o mais optimista norte-americano acreditaria que Jimmy Spithill conseguisse repetir o feito alcançado três anos antes, em Valência, e voltasse a erguer a “Auld Mug”. No entanto, o que se seguiu ficará para sempre na história da modalidade: numa das mais memoráveis recuperações do desporto, a Team USA, que esteve a perder por 1-8, salvou oito match points e, com um total de 9-8, garantiu em São Francisco a vitória na America´s Cup.

Três anos, nove meses e oito dias depois, a Team New Zealand, novamente com o estatuto de challenger, reentrou no campo de regatas com uma clara vantagem sobre a Team USA (6-1), mas desta vez os neozelandeses não meteram água, e sem desperdiçar qualquer match point, colocaram um ponto final na 35.ª America’s Cup.

Num país onde a popularidade da vela só encontra paralelo no râguebi, o triunfo neozelandês é o resultado de uma estratégia meticulosamente pensada. Para conseguirem roubar a “Auld Mug” a um adversário que iria competir no campo de regatas por si escolhido, que tinha mais dinheiro e que adaptou as regras como lhe era mais conveniente, os “kiwis” mostraram, mais uma vez, uma extraordinária capacidade de se reinventarem e de conseguirem encontrar soluções de engenharia inovadoras. No entanto, na nova era dos hydrofoils, onde a tecnologia desempenha um papel fulcral, o lado humano acabou por ser decisivo e Burling ganhou um estatuto de herói nacional na Nova Zelândia.

Prodigo da vela, o skipper neozelandês conseguiu, na primeira participação na prova, ganhar o duelo com o consagrado Jimmy Spithill, que tinha vencido as duas últimas duas edições, e Rodrigo Moreira Rato, responsável pela distribuição de conteúdos em língua portuguesa da America’s Cup, não tem dúvidas em reconhecer o mérito do neozelandês, “um talento fora de série”: “O Burling tem uma cultura muito intrínseca ao Team New Zealand. É bastante modesto e destaca sempre o mérito da equipa. Só me questiono o que vai fazer agora. Aos 26 anos, já ganhou o ouro nos Jogos Olímpicos e a America´s Cup.”

Surpreendido pela forma “avassaladora” como o triunfo da Team New Zealand foi conseguido - “Sabíamos que estavam fortes, mas a surpresa foi estarem tão mais fortes” – este especialista em vela diz, em declarações ao PÚBLICO, que agora “será tudo colocado causa” e que o “actual modelo da competição pode estar esgotado”. Se a Team USA tivesse ganho, havia um acordo, não assinado pelos neozelandeses, para realizar a próxima edição em 2019, mantendo o mesmo barco e modelo de competição. “Eles têm o objectivo de baixar os custos e o local da próxima edição deverá ser Auckland. Quanto ao resto, é muito prematuro para fazer qualquer previsão”, realça Rodrigo Moreira Rato.

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