Luís Lino, um jovem tradutor português ao serviço de André Villas-Boas na China

Com 25 anos, Luís Lino integra o "staff" de André Villa-Boas no Shanghai SIPG como tradutor. "Nem queria acreditar", diz, recordando o convite do técnico português

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Fabricio Trujillo/Pexels

Luís Lino não é "matador" na área, extremo de passes teleguiados ou "muro" na defesa, mas foi um dos reforços que o técnico português de futebol André Villas-Boas trouxe esta época para os chineses do Shanghai SIPG.

"Nem queria acreditar", recorda Lino, 25 anos, sobre o convite para integrar o staff de Villas-Boas como intérprete para chinês. "Isto caiu-me do céu", diz. Formado em mandarim pelo Instituto Politécnico de Leiria (IPL), o jovem tradutor trabalhou como guia no museu do FC Porto antes de rumar, no início deste ano, a Xangai — a "capital" económica da China, com 24 milhões de habitantes. No SIPG, actual segundo classificado da superliga chinesa, Luís Lino é um "polivalente" da tradução: "Para o que [Villas-Boas] precisar, estou sempre pronto", afirma. "Não só com a equipa técnica, às vezes ajudo também o departamento médico ou o André a comunicar uma informação", descreve. "Até coisas muito pequenas: ir tratar de documentação, do visto ou documentos de viagem" dos jogadores.

No Shanghai SIPG alinham quatro jogadores que falam português: os brasileiros Elkeson, Hulk e Oscar e o defesa central português Ricardo Carvalho. Antigo técnico do FC Porto, clube com o qual conquistou a Liga Europa, a I Liga e a Taça de Portugal, na época 2010/11, André Villas-Boas rumou à China em Dezembro passado. Luís Lino admite que "no início foi um bocado difícil", devido ao desconhecimento sobre o vocabulário em chinês usado no futebol. "No que toca a questões avançadas, a questões tácticas, eu comecei a desenvolver a linguagem, termos e expressões aqui. Graças a Deus tive um apoio enorme e a compreensão por parte do André e do resto do staff. Eles têm ajudado imenso. E eu tento retribuir, o máximo que posso", conta.

Comparado com os restantes tradutores do Shanghai SIPG, todos chineses, Luís Lino diz remar "contra a corrente". "Sou um português, a tentar traduzir para chinês. Não para a minha língua nativa", explica. Antes de optar por estudar mandarim, Lino ainda pensou em tirar o curso de jornalismo, mas no final não resistiu ao desafio de estudar uma língua "exótica" e "muito rentável". O chinês mandarim é a língua mais falada do mundo e o único idioma oficial da República Popular da China, país com 1.375 milhões de habitantes — cerca de 18% da população mundial — e a segunda maior economia do planeta.

Em colaboração com o Instituto Politécnico de Macau, o IPL abriu em 2006 a primeira licenciatura em Portugal de Tradução e Interpretação Português/Chinês - Chinês/Português. O Instituto Confúcio, organismo patrocinado por Pequim para assegurar o ensino de chinês, está também já implantado em quatro universidades portuguesas — Aveiro, Coimbra, Lisboa e Minho.

Desde o ano passado, o ensino de mandarim foi introduzido em algumas escolas portuguesas, ao nível do secundário e do terceiro ciclo, como alternativa de língua estrangeira. Em São João da Madeira, aulas de mandarim estão, desde 2012, disponíveis para alunos dos 3.º, 4.º e 5.º ano do ensino básico. Luís Lino diz que estudar chinês exige "muito esforço e dedicação", mas que não se trata de um "bicho de sete cabeças". "Como é uma língua que não estamos habituados a ouvir no dia-a-dia, muitas pessoas têm uma noção errada. Quando [os estudantes] começam a aprender como é que o chinês funciona, quais é que são os hábitos que levam a uma boa aprendizagem, a maior parte dessa mística desaparece e torna-se uma língua tão acessível como qualquer outra", acrescenta. Para o jovem, o futuro passa pelo futebol. "É uma área que eu sempre gostei", conta. "Agora que cheguei aqui, quero tentar fazer uma carreira que dure."

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