Camiões de Barrancos obrigados a usar estradas espanholas

Pontes sobre os rios Ardila e Múrtega não suportam viaturas pesadas, obrigando os condutores a percorrer 150 quilómetros por Espanha para chegar a destinos a 70 quilómetros.

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Vista de Barrancos josé sarmento matos

A população de Barrancos insiste há décadas numa queixa: quer uma rede viária com melhores condições. E agora os protestos acentuam-se, com a câmara municipal a pedir explicações ao Governo e à empresa Infra-estruturas de Portugal sobre as razões que levaram ao condicionamento do trânsito de pesados em duas pontes da região.

Para além da má qualidade do piso e do traçado que dá acesso à povoação, junta-se agora a degradação das pontes sobre os rios Ardila e Múrtega. A primeira, na EN 386, que liga Barrancos à freguesia de Amareleja, “foi condicionada” pela Infra-estruturas de Portugal (IP) a veículos pesados com carga máxima superior a 10 toneladas no passado dia 30 de Maio. A autarquia diz que não informada da colocação de sinalética a impor a restrição nem foi informada da existência de “eventuais anomalias na estrutura da ponte” que “a todos surpreendeu”.

O comunicado enviado ao PÚBLICO pela Câmara de Barrancos refere que o condicionamento do trânsito na EN 386 atinge “a única via de acesso à vila”, facto que está causar um “enorme prejuízo” às empresas locais, nomeadamente a Barrancarnes, um dos principais exportadores nacionais de presuntos, paletas e enchidos.

As viaturas desta empresa, refere a autarquia, utilizavam diariamente a estrada que a IP condicionou ao trânsito e agora os camiões da distribuição nacional e internacional da Barrancarnes “estão parados no parque da empresa”.

A única alternativa que se coloca à empresa “irá causar enormes prejuízos”, ao obrigar à utilização das estradas espanholas, como já está a acontecer. As viaturas provenientes do matadouro regional de Reguengos de Monsaraz, que se encontra a 70 quilómetros de Barrancos, estão a fazer um desvio, por Valencia de Mombuey/Oliva de la Frontera (Espanha), percorrendo “mais de 150 quilómetros por dia, para trazer a matéria-prima até à sede da empresa no parque empresarial de Barrancos.

A outra via de acesso ao concelho, pela EN 258 que liga Barrancos/Safara/Beja, também não é alternativa por obrigar os utilizadores a atravessar a ponte do Murtigão, que apresenta “um visível estado de degradação, sem qualquer intervenção significativa há dezenas de anos”.

A Câmara de Barrancos conclui que “só razões de perigo iminente de derrocada” da estrutura da ponte do Ardila justificarão a decisão da empresa gestora.

Assim, na última reunião do executivo municipal da vila raiana foi aprovado por unanimidade o envio de um pedido formal de informação e “simultaneamente de protesto” ao gabinete do ministro do Planeamento e Infra-estruturas, Pedro Marques, “manifestando a estranheza por uma situação sobre a qual a Câmara Municipal de Barrancos não foi consultada ou informada”.

Um pedido de esclarecimento, semelhante, foi também enviado ao presidente da IP, mas a autarquia lamenta que até ao momento “não tenha havido qualquer resposta”, o que já mereceu uma moção de protesto pelo seu silêncio.

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