Uma época para o Braga aprender e o bracarense esquecer

A época fica marcada pelo aumento da conflituosidade e da desconfiança em torno das estruturas do futebol e pela redução da competitividade na Liga e restantes competições nacionais.

Uma parte muito significativa da magia do futebol explica-se pela forma cíclica como as épocas se sucedem, renovando-se, ano após ano, os sonhos, os desejos e as expectativas dos adeptos. É por isso que um balanço é, quase sempre, um atualizar de desejos.

Em termos globais, a época fica marcada pelo acentuar de duas tendências: o aumento da conflituosidade e da desconfiança em torno das estruturas do futebol e a redução da competitividade na Liga e restantes competições nacionais. Para isso contribuíram alguns fatores que há muito foram identificados e que os agentes desportivos parecem querer perpetuar: em primeiro, a colossal diferença entre os orçamentos dos três chamados grandes e dos restantes clubes; em segundo, o número excessivo de equipas na I Liga; em terceiro, a maximização dos erros de arbitragem que prejudicam os três chamados grandes, criando condições para que sejam, invariavelmente, mais favorecidos; e, em quarto, a excessiva representação desses clubes (e dos seus dirigentes) nos media nacionais. É também por isso que, em Portugal, os estádios estão tristemente vazios na esmagadora maioria dos jogos.

Em Braga, a época que agora termina não deixa saudades. Esta é uma ideia consensual entre todos os bracarenses, independentemente do candidato que escolherem apoiar no próximo dia 27 de maio. Vamos ao princípio: pouco depois da euforia da vitória no Jamor, os adeptos do Sporting de Braga foram surpreendidos por uma escolha que teve tanto de imprevisível e incompreensível como de amarga: o treinador José Peseiro, que tinha acabado de ser despedido do FC Porto e trazia no currículo uma passagem muito contestada por Braga, foi escolhido para voltar a liderar o projeto desportivo no futebol profissional.

Apesar dos resultados na Liga (melhores que as exibições, sublinhe-se) terem dado o benefício da dúvida a um treinador que não gozava de qualquer empatia junto dos adeptos, os desaires na Liga Europa aumentaram a desconfiança dos bracarenses. A rutura aconteceu tarde, já depois da eliminação da Taça de Portugal, em casa e diante do Sporting da Covilhã (da II Liga). Foi um desaire demasiado humilhante para o orgulho dos guerreiros.

Com a saída de José Peseiro, a passagem fugaz de Abel Ferreira pelo comando técnico deixou um rasto altamente positivo: vitória em Alvalade com consequente subida ao terceiro posto. Suspirou-se para que ficasse como treinador principal, mas logo depois do jogo, Jorge Simão, que brilhava em Chaves, chegou com um discurso que fez os bracarenses acreditarem outra vez.

O estado de graça acabou cedo: primeiro a derrota em casa com o Vitória de Guimarães (inédita na Pedreira) e, depois, a derrota na final da Taça da Liga, diante de um Moreirense que a Liga batizou de campeão de inverno e que, ironicamente, se manteve aflito até às últimas jornadas do campeonato. Jorge Simão, que também será recordado por não ter levado suficientemente a sério a máxima de que “pela boca morre o peixe”, protagonizou uma série de jogos agónicos, acabando por sair na sequência de uma derrota em Paços de Ferreira.

Abel Ferreira antecipou assim o futuro e assumiu um lugar que muitos já lhe davam como certo para a próxima época. O Braga encerra a época de mãos a abanar e fora dos quatro lugares da frente, o que só aconteceu por três vezes nos últimos 12 anos. Que os erros no planeamento e gestão da época se constituam como uma aprendizagem para as estruturas dirigentes do Braga para que os adeptos possam esquecer esta temporada o mais depressa possível.

A vitória do Benfica consolida a ideia de que as estruturas desportivas dos clubes também podem ganhar títulos. Este ano, a luta a dois começou a desenhar-se muito cedo: Sporting CP e SC Braga saíram da luta pelo título ainda antes do Natal, afundados numa sucessão de maus resultados. No duelo com o FC Porto, o Benfica mostrou mais pulmão, mais músculo e, sobretudo, mais cérebro. A diferença de qualidade entre os plantéis pode ter sido importante, mas não explica tudo: o FC Porto de Nuno Espírito Santo não geriu bem a pressão, enjeitando todas as oportunidades que o adversário lhe deu para se chegar (ou mesmo ficar) à frente do campeonato.

Mesmo a terminar o campeonato, a Federação lançou a promessa do vídeo-árbitro para responder ao ruído causado pela suspeição em que se afunda o futebol português. Suspeição que se adensa quando se percebe que teremos equipas e jogos de primeira classe (com 20 câmaras) e equipas e jogos de segunda classe (com apenas oito câmaras).

Como pode sobreviver uma competição onde os clubes que competem não são tratados em igualdade de circunstâncias pelos órgãos que a organizam e decidem?

O autor escreve segundo as normas do novo Acordo Ortográfico

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