Sátira política e social cada vez mais ausente do cortejo da Queima de Coimbra

A grande moda são os banhos de cerveja.

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Martin Henrik

A sátira política e social, que era norma nos carros dos estudantes, passou quase despercebida no cortejo deste domingo da Queima de Coimbra, marcado pelos já habituais banhos de cerveja e cânticos de cursos.

"A alegria e a diversão mantêm-se iguais, mas há menos sátira. O cortejo é cada vez menos usado para a crítica política e social", disse à agência Lusa o dux veteranorum do Conselho de Veteranos da Universidade de Coimbra, João Luís Jesus, considerando que hoje os estudantes optam pelo "facilitismo" na altura de construir o carro alegórico, quando antes a crítica, "imaginativa" e criativa, era quase omnipresente.

Por outro lado, instalou-se uma prática que já é quase um hábito do cortejo há alguns anos: os banhos de cerveja.

Com o tempo quente, o piso depressa se tornou escorregadio no cortejo deste ano, com estudantes a correrem atrás uns dos outros à procura de molhar os seus colegas.

O novo hábito veio também alterar o tipo de ocorrências que a Cruz Vermelha tem de atender.

"O chão fica todo molhado e há entorses, cortes ou alguns traumas", conta Vítor Figueiredo, a dar apoio no cortejo há 27 anos, relatando que, se antes não havia tantas quedas por causa do piso escorregadio, havia muito vidro e os pneus das ambulâncias ficavam furados numa festa que se fazia essencialmente à base de espumante.

No entanto, excessos "sempre houve", conta.

"É um momento de festa", sublinha Ricardo, caloiro de Gestão, que diz que o cortejo é exactamente como imaginava.

Para António Castanheira, de Relações Internacionais, o cortejo é para se divertir, onde o exagero também faz parte dos moldes em que a festa se desenrola.

"Com a Queima a aproximar-se, aumenta a ansiedade e a expectativa. É uma semana incrível, em que se esquecem as aulas, em que se esquecem os problemas, em que se esquece tudo", vinca João, estudante de Informática.

Para os estudantes, é uma espécie de momento de catarse, onde as incertezas em relação ao futuro - espelhadas em alguns carros de curso - são deixadas de lado.

Apesar de haver menos crítica política e social, surgem algumas referências, com bonecos do Presidente do Estados Unidos, Donald Trump, e do primeiro-ministro, António Costa, a encabeçar mais de uma dezena de carros alegóricos, de um total de 101 que desfilam entre o Largo D. Dinis e a Portagem.

A possibilidade de emigrar ou a dificuldade de encontrar emprego também estão presentes, embora de forma residual.

Um médico surge "garrotado" a segurar um avião e um diploma, e aparecem mensagens como "Quero trabalhar sem precisar de emigrar", "Requisitos para 1.º emprego: Cunha" ou "Nem ao microscópio vejo futuro em Portugal".

A Queima das Fitas prossegue com noites na Praça da Canção, que começaram na sexta-feira e terminam no dia 12, com concerto de Kaiser Chiefs.

 

 

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