Portugueses no Canadá preparam 1.500 refeições por ano para os mais necessitados

O casal Marmelo, através de grupos com o apoio dos programas comunitários "Out of the Cold" e "Welcome Table", confeccionam as refeições com a colaboração de outros voluntários

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Daria Nepriakhina/Unsplash

Um casal de portugueses no Canadá confecciona refeições para pobres há 25 anos e pretende que os mais novos sigam o mesmo caminho.

Agostinho e Clara Marmelo, de 82 e 78 anos, respectivamente, chegaram a Toronto, há meio século, provenientes de Martinchel, Abrantes (distrito de Santarém), juntamente com três filhos menores (de um, três e quatro anos). Muito cedo sentiram a obrigação de ajudar os mais necessitados, os sem-abrigo, e prepararam já 1.500 refeições por ano, mas dada a sua idade avançada debatem-se com dificuldades de mobilidade. "Hoje em dia já não há muitas pessoas que querem dar o 'corpo ao manifesto', apesar que haver muitos que pretendem ajudar, mas acarretar todas essas responsabilidades, como é ir comprar, e transportar os produtos, torna-se mais complicado", disse à agência Lusa Agostinho Marmelo.

O português exemplificou que mesmo para a recolha dos produtos alimentares doados por empresários como é ao caso do pão e doces, através de uma pastelaria portuguesa, todos os elementos do grupo já têm uma idade avançada e é necessário "pessoas mais novas".

O casal Marmelo, através de grupos com o apoio dos programas comunitários "Out of the Cold" (Fora do Frio) e "Welcome Table" (Bem-vindos à Mesa), confeccionam as refeições com a colaboração de outros voluntários em igrejas locais, ao longo do ano. "Sempre cozinhámos para 120 pessoas, cada vez que nos juntamos. O Agostinho começou primeiro a servir à mesa. Uma senhora ofereceu-se para pagar os produtos. E começámos assim", explicou Clara Marmelo.

"No 'Out of the Cold' (os sem-abrigo) não só têm direito à refeição, mas também têm dormida e o pequeno-almoço. No outro programa só têm a refeição. Sentimos uma enorme felicidade no que estamos a fazer. O amor com que se faz não tem explicação", acrescentou.

A imigrante gostava que esta "tradição" fosse mantida, mas para tal é necessário que "apareça alguém novo". Agostinho Marmelo também lança o repto aos restaurantes e associações que organizem festas e jantares em grupo, que "não desperdicem comida", pois caso esteja em condições "pode ser muito útil para os mais necessitados". "É uma pena que as pessoas que tenham restos em bom estado que o atirem para o lixo. São milhares de toneladas de refeições desperdiçadas em Toronto", lamentou.

Durante dez semanas, o casal elabora 1.500 refeições, mas podiam "fazer muito mais". "Quem quiser experimentar, tente ajudar porque a recompensa é maior do que o trabalho que se tem. Há muitas pessoas a passarem fome, só quem vê é que sente", apelou. É por amor aos pobres que Agostinho Marmelo iniciou toda esta experiência de ajudar o outro, seguindo uma tradição familiar da sua avó e dos seus pais.

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