Bas Dost não foi barato mas foi um grande investimento

Era um avançado que estava à vista de toda a gente e toda a gente sabia que sabia o que ele podia fazer. O Sporting precisava de um substituto para Slimani e encontrou-o.

Foto
LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

No futebol moderno é preciso ter muita imaginação para descobrir ouro em forma de jogador, olhar debaixo das pedras que passam despercebidas à maioria. Mas ainda há quem consiga milagres no “scouting” e, em Portugal, esses milagres acontecem com frequência. Há muitos bons exemplos, mas, para o caso, falemos de avançados e falemos do Sporting, que descobriu na Argélia um dos seus melhores avançados dos últimos anos. Ninguém sabia quem era Islam Slimani (a concorrência “leonina” para a sua contratação era o Nantes), mas, em três épocas, um investimento de 300 mil euros rendeu 30 milhões.

Não era o caso de Bas Dost, avançado de um país que sempre teve grandes avançados (Holanda) e com provas dadas numa liga que toda a gente conhece (Bundesliga). Toda a gente sabia quem ele era e o que podia fazer, e dez milhões de euros seria um investimento ridículo para os padrões da Premier League inglesa ou para boa parte dos clubes da liga espanhola. Para o Sporting, dez milhões de euros representou o seu maior investimento de sempre num jogador, mas o rendimento do holandês tem justificado todos os cêntimos que o Sporting pagou ao Wolfsburgo.

Mesmo não tendo chegado a tempo de começar a época, Bas Dost já fez 30 golos em todas as competições, liderando de forma destacada a lista dos goleadores em Portugal, com 28, mais dez que o portista Tiquinho Soares, e com mais golos que nove equipas da liga portuguesa. Este número permite-lhe sonhar com a conquista da Bota de Ouro, estando neste momento apenas atrás de Lionel Messi. E há outro número que importa destacar. O Wolfsburgo, equipa que o deixou sair porque não tinha espaço para ele depois de ter contratado Mario Gómez, marcou apenas trinta golos na presente edição da Bundesliga e está um ponto acima da zona de despromoção.

Bas Dost é o que Paulo Sérgio chamava, em tempos, um “pinheiro” no ataque, um ponta-de-lança que está no sítio certo para meter a bola onde ela deve estar, no fundo da baliza. Os seus 1,96m sugerem (e com razão) que o jogo de cabeça é o seu ponto forte, mas o holandês não é avançado de uma nota só. Também é eficiente com os pés e, para além de marcar muito, desempenha com grande competência o papel de pivot na recepção e distribuição. Não sendo supersónico de pernas, é veloz no pensamento e na execução. E está quase sempre no sítio certo.

E também beneficia, é certo, do facto de a corrida à Bota de Ouro se ter tornado num objectivo colectivo, mas já marcava com impressionante regularidade antes de se começar a falar disso: começou com cinco golos nos primeiros cinco jogos e já teve uma série de cinco jogos consecutivos a marcar no campeonato. E há uma relação directa entre a pontaria de Bas Dost e os resultados dos “leões” no campeonato. Dos dez jogos que o Sporting não ganhou no campeonato (seis empates e quatro derrotas), o holandês ficou em branco em seis.

Mesmo na Holanda, não é fácil os melhores jogadores escaparem aos grandes clubes, mas, por uma razão ou por outra, Bas Dost nunca vestiu a camisola, nem do Ajax, nem do Feyenoord, nem do PSV Eindhoven. Depois de dar nas vistas no FC Emmen, um pequeno clube no norte do país, mudou-se para o Heracles e, depois, para o Heerenveen. Duas grandes épocas depois (a segunda com 37 golos em 39 jogos), mudou-se para a Bundesliga e para o Wolfsburgo em 2012. Durante os dois primeiros anos, não era uma primeira opção evidente, mas foi marcando o ponto: 12 golos na primeira época, 5 na segunda.

À terceira época, finalmente explodiu no Wolfsburgo. Maior assiduidade no “onze” igual a muitos golos: 20, dois deles marcados ao Sporting numa eliminatória da Liga Europa, os seus primeiros golos europeus. Na época seguinte ficou-se por metade dessa marcar e, para 2016-17, iria ter a concorrência de Mario Gomez, resgatado pelo Wolfsburgo ao futebol turco. A equipa da Volkswagen ainda tentou renovar com ele, mas sem sucesso, e acabou por o vender ao Sporting, talvez a proposta desportivamente mais interessante para o jogador entre uma lista de interessados que variava entre a segunda divisão inglesa (Newcastle) e o meio da tabela de Espanha (Bétis).

Oito meses depois, Bas Dost é um dos melhores marcadores da Europa (e passou a primeira opção na selecção holandesa), o Sporting não podia ter encontrado melhor substituto para Slimani e quem no Wolfsburgo o deixou sair deve corar de vergonha.

Sugerir correcção
Comentar