Jardim assegura que nunca pertenceu à Flama

Na autobiografia de Alberto João Jardim não faltam elogios a Marcelo Rebelo de Sousa e ao "melhor do mundo", Cristiano Ronaldo, bem como esclarecimentos quanto à sua relação com a Frente de Libertação do Arquipélago da Madeira.

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gc Gregorio Cunha - colaborador

O ex-chefe do Governo da Madeira Alberto João Jardim garante nunca ter pertencido ao movimento independentista Flama (Frente de Libertação do Arquipélago da Madeira) e afirma ter até enfrentado um “momento de crispação” com a organização.

Nas 848 páginas de uma espécie de autobiografia política, intitulada Relatório de Combate (D. Quixote), o homem que governou a Madeira durante 37 anos elogia Marcelo Rebelo de Sousa, de quem foi vice-presidente no PSD, e classifica a estátua de Cristiano Ronaldo como "um hino à Força de Vontade Histórica do Povo Madeirense".

Logo no início do livro, Jardim desfaz qualquer dúvida quanto à sua relação com a Flama, que no período após o 25 de Abril se bateu de forma radical, pela força, pela independência da Madeira. “Ao contrário do que adversários políticos me acusaram - não é que o papel da FLAMA tivesse sido desonroso, antes pelo contrário -, eu não só nunca pertenci a qualquer das suas diferentes organizações, como nem sequer estabeleci contactos com elas. Cada um tinha o seu papel na defesa da democracia. O meu era assegurar a sobrevivência do PSD e do Jornal da Madeira”, escreve.

Jardim considera, contudo, que, “ao contrário da FLA (Frente de Libertação dos Açores), a Flama não tinha um conteúdo doutrinário visando a independência da Madeira”. "Haveria quatro ou cinco Flamas ", aponta o ex-líder do executivo madeirense, realçando que a organização tinha, sobretudo, um papel de "dissuasão da ameaça comunista que existia em Portugal” após a revolução de Abril.

Alberto João Jardim recorda que houve um "momento de crispação" com um dos sectores da organização, quando defendeu que a solução para o arquipélago era "uma grande autonomia política" e "não a independência". "Sei que certos elementos radicais quiseram pôr-me uma bomba", assinala, acrescentando que, "no fim, temia-se que a Flama já estivesse infiltrada pelo próprio PCP".

E, por isso, "uma das primeiras coisas" que fez quando chegou ao governo regional foi "chamar um conjunto de pessoas civilizadas e esclarecidas" que suspeitava terem ascendente sobre a organização radical. "Disse-lhes que ia lutar por uma autonomia política para a Madeira, tão ampla quanto possível, mas que as acções violentas me tiravam o tapete, e que, sendo assim, embora não soubesse quem eram as personagens da Flama, nem mesmo se os meus interlocutores tinham alguma coisa a ver com a dita, como não podia ceder na questão da autonomia, nem queria obstáculos ou pretextos contra ela, não tinha outro remédio senão organizar uma eficaz acção até os ter todos detidos, o que resultaria num confronto desastroso para a economia e para o campo social do arquipélago”, lembra.

Em resposta, ouviu que enquanto “garantisse uma luta sem receios pela autonomia, se interrompiam as actividades da Flama”. No livro, o ex-presidente do Governo da Madeira recorda os momentos conturbados após a revolução em que a expressão "o João faz anos" era o “código que se ouvia na Madeira quando corria que a FLAMA planeava alguma acção”.

Esclarece também que a expressão “cubano”, com que mimoseava alguns socialistas como o ex-líder António Guterres, não visava aqueles que nasceram no continente, mas somente os que eram “preconceituosos em relação à Madeira”.

O actual Presidente da República portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, de quem foi vice-presidente e apoiou sempre quando este liderou o PSD, merece grandes elogios. “Marcelo é uma pessoa muito exigente, para além de ter uma comprovadíssima inteligência. Tínhamos de estar 24 horas de serviço. Eu devia atenções a Marcelo, que de resto tem a primazia intelectual, cultural e humana que se lhe reconhece. Mas, ser vice-presidente, residindo na Madeira, e ainda por cima com ausências devido a compromissos internacionais, obrigou-me a fazer-lhe ver que o meu trabalho não poderia ser aquilo de que ele necessitava”, salienta. Jardim justifica assim o facto de ter deixado de ser vice-presidente para ocupar a presidência da mesa do Congresso.

O ex-governante passa em revista as relações com o ex-Presidente Cavaco Silva, mas também com os ex-primeiros-ministros José Sócrates ou António Guterres, não escondendo as relações difíceis.

Mas, recorda também os tempos em que o Jornal da Madeira "era um dos três principais jornais portugueses não tomados pelos "comunistas" , pelo que era seguido diariamente nas chancelarias estrangeiras”.

Alberto João Jardim tem ainda uma palavra para o futebolista Cristiano Ronaldo, nascido na Madeira e eleito por quatro vezes o “melhor do mundo”, e que tem já um museu, uma estátua e um aeroporto com o seu nome na região. O monumento a Cristiano Ronaldo é, segundo Jardim, "um hino à Força de Vontade Histórica do Povo Madeirense", mas também "uma exaltação ao trabalho", uma vez que o jogador só atingiu o patamar em que se encontra porque "trabalha muito" e "exige bastante a si próprio". Além disso, prossegue, o monumento expressa ainda o "agradecimento do coração grande do povo madeirense" relativamente ao futebolista nascido na região e que actua actualmente no Real Madrid, de Espanha.

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