A tolerância só pode ser zero

A violência no futebol tem vindo a transformar-se numa selvajaria transversal, que inclui escalões profissionais e amadores e que não poupa os jogos das camadas mais jovens ou de futsal.

O jogador de futebol que agrediu um árbitro em campo neste domingo foi constituído arguido e a Federação Portuguesa de Futebol anunciou ontem que os jogos dos clubes com historial de violência vão passar a ser alvo de policiamento obrigatório. Basta? Uma agressão bárbara como esta não pode ficar impune quer do ponto vista criminal, quer do ponto de vista desportivo. O clima de perseguição, intimidação ou agressão de árbitros não é propriamente uma novidade. O clube em causa possui um longo historial, a ponto de várias equipas se recusaram a jogar contra o Canelas 2010, o que não é uma novidade para a Associação de Futebol do Porto, que ontem repudiou a agressão.

O número de agressões de que foram vítimas os árbitros desde o início desta temporada quase que duplicou, diz a associação dos profissionais da arbitragem. A violência no futebol tem vindo a transformar-se numa selvajaria transversal, que inclui escalões profissionais e amadores e que não poupa os jogos das camadas mais jovens ou de futsal. Pedro Proença, que foi considerado o melhor árbitro do mundo, foi agredido em 2011, no Centro Comercial Colombo; um árbitro da distrital de Viseu foi agredido à cabeçada há menos de um mês; e o vidro da viatura de um outro árbitro foi partido, neste fim-de-semana, pelo pai de um miúdo de 12 anos, como retaliação por uma qualquer decisão.

O futebol ocupa demasiado espaço no espaço público. Dirigentes, treinadores e claques de futebol contribuem de forma competente para fazer de um desporto uma dupla batalha, em campo e fora dele. As suas declarações são reproduzidas nos meios de informação, continuamente, redundantemente, como se fossem de interesse público, quando mais não são do que actos bélicos e incitações à lógica do duelo.

Não basta que a federação prometa tolerância zero e policiamento obrigatório para certos clubes. É importante que a disciplina desportiva seja severa (e mais rápida) com os casos mais intolerantes, como aconteceu com a suspensão de um jogador do Marítimo, na sequência da agressão a um árbitro num jogo particular. A FPF não pode contemporizar com os casos de violência e deve exigir das associações distritais um comportamento igualmente exigente. Caso exista vontade e coragem, há várias sanções possíveis. A partir deste ponto, nada poderá ficar na mesma.

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