A reviravolta de Abril de 2011

Essa equipa do FC Porto, que tudo viria a ganhar, era insuperável a nível nacional.

Nos últimos anos, o factor casa não tem tido peso decisivo no confronto entre os dois eternos rivais, FC Porto e Benfica. O novo Estádio da Luz tem proporcionado aos Dragões momentos épicos, o que aumenta as expectativas para o clássico de hoje.

Hesitei, confesso, em escolher o clássico que mais me emocionou. Não posso esquecer o jogo em que o FC Porto comemorou o título às escuras, em pleno Estádio da Luz, a cinco jornadas do fim. Mas, convenhamos, esse jogo em que Jesus confessou não ser electricista para não ter que explicar o inexplicável, não merece relevo especial para quem aprecia o “fair play”. Na história dos dois clubes há episódios menos edificantes que nem vale a pena recordar, e já restavam poucas dúvidas, qualquer que fosse o resultado do jogo, de que o FC Porto se sagraria campeão.

Prefiro, por isso, relembrar a célebre reviravolta na Luz, dezassete dias depois desse jogo da vergonha, desta vez na 2.ª mão da meia-final da Taça de Portugal, em que o FC Porto chegava à Luz em desvantagem, depois de ter perdido no Dragão por 2-0. Nesse dia de Abril de 2011, pouca gente acreditava que o FC Porto, apesar de já ter garantido o campeonato, seria capaz de recuperar e marcar três golos na Luz. Tanto mais que, para o Benfica, ainda campeão nacional, era a última oportunidade para salvar a época.

A morna primeira parte do jogo, com apenas uma oportunidade de golo para cada lado, acabaria com um nulo, confirmando o optimismo dos benfiquistas. Era isso, obviamente, o que lhes interessava. Contudo, a surpresa estava guardada para o reatamento do jogo. E, sem grande surpresa, pois desde o intervalo que o FC Porto dominava a partida, Moutinho chegaria ao golo aos 64 minutos, com um remate de fora da área. Com o Benfica de Jesus recuado, resignado a defender a vantagem tangencial na eliminatória, o FC Porto de Villas-Boas acabaria por marcar dois golos de rajada, aos 72 e 74 minutos, por Hulk e Falcao, de nada valendo a valente resposta do Benfica, que ainda viria a marcar aos 80 minutos, e de penálti, por Cardozo, fechando um quarto de hora vertiginoso.

No final, não houve apagão nem rega. Poucas vezes vi os benfiquistas tão conformados com a superioridade de um rival. Com o campeonato já resolvido, ficava a certeza que essa equipa do FC Porto, que tudo viria a ganhar, era insuperável a nível nacional, pela argúcia do seu treinador, pela qualidade do plantel, pela atitude inquebrantável dos jogadores. O que recordo, desse jogo inesquecível e heróico, para além da alegria incontida dos adeptos portistas, é a forma como os jogadores e equipa técnica se uniram, como nunca desistiram, como souberam manter a motivação. E não posso esquecer esse quarto de hora emocionante, em que assisti a um combate fantástico entre dois grandes treinadores, com uma extraordinária atitude no banco, conduzindo dois excelentes plantéis.

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