O giocondo

Depois de ver o busto de Cristiano Ronaldo é escusado fechar os olhos. Aquela caraça zombeteira, torcida num ricto horripilante, fixa-se-nos nos miolos, impossível de esquecer, não havendo lixívia que valha aos nossos olhos.

Não é só a estátua não ser parecida com o futebolista. É ser medonha por direito próprio. Quem é aquele diabo deformado que nos rosna? Como se pode pedir às crianças que apaguem a luz depois de as expor àquela monstruosidade?

É com aquela carantonha maleficente que se procura tranquilizar os passageiros que embarcam no aeroporto da Madeira? Será aquele sátiro embrutecido e desdentado a última imagem que os viajantes levam da pérola do Atlântico?

Gozar é libertador e recomenda-se. Mas tudo indica que a estátua só chegou aos nossos olhos arregalados por razões humanamente louváveis. Cristiano Ronaldo não quis rejeitar o trabalho do esculpidor. Terá até caído na asneira catastrófica de achar que a primeira versão era demasiado séria e idosa, pedindo um semblante mais mocetão e “jovial”.

Meu dito, meu feito. Foi assim que ficámos com a resposta mais filisteia do século XXI ao cavaleiro sorridente de Frans Hals (1624) e aos demónios assanhados de Hokusai (1830).
Agora é preciso a mesma coragem para encomendar uma nova escultura, de preferência abstracta. Ou então aceitar que Portugal (e o mundo, já agora) está cheio de estátuas horríveis e que aquelas que fazem rir (e não chorar) não são as piores de todas. Excepto talvez esta. Esta é certamente a pior de sempre. 

LUSA/HOMEM DE GOUVEIA
Reuters/RAFAEL MARCHANTE
LUSA/GREGÓRIO CUNHA
LUSA/HOMEM DE GOUVEIA
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LUSA/GREGORIO CUNHA
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