23 alter-egos à procura de M. Night Shyamalan

Fragmentado é um filme ocupado menos pela poética de desordem de uma personagem do que pelo pragmatismo publicitário de um realizador, que quer anunciar que está vivo e no controle.

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23 personagens, dentro de um corpo, em busca de um autor, enquanto esperam pela aparecimento a qualquer momento da 24ª, um morphing de rostos – e clichès cinematográficos – da psicose, e no final M. Night Shyamalan reivindica que é tudo uno, que é tudo (d)ele.

Como se se tratasse, em Fragmentado, história da desordem psicológica que fixa mais um retrato para a galeria de “escolhidos” do realizador, de apanhar os estilhaços do que foi uma carreira, a do autor de O Sexto Sentido, O Protegido, A Vila – filme a partir do qual tudo começou a desintegrar-se, estatelando-se nos desastres The Last Airbender e After Earth. Mas Fragmentado faz figura de filme ocupado menos pela poética de desordem de uma personagem do que pelo pragmatismo publicitário de um realizador, que quer anunciar que está vivo e no controle. Por isso, o tradicional twist de que se espera sempre de Shyamalan é agora furtado às personagens e à narrativa para ser deslocado em favor do próprio realizador.

Paramos por aqui, para não se começarem a ouvir gritos de spoiler!, mas sempre podemos acrescentar que se trata de reconduzir Fragmentado a uma marca registada (até porque a personagem interpretada por James McAvoy, segundo declarações do realizador, estava já nos primórdios de O Protegido, que talvez seja o projecto artisticamente mais ambicioso do realizador).

Esta tentativa de regresso ao mundo dos vivos, que está a funcionar nas bilheteiras, fica refém desse programa de sobrevivência. Serve um objectivo preciso, o resultado é árido: não deixa de ser um best of, pode começar no Psico, de Hitchcock, e acabar no Cat People, versão Paul Schrader, mas em qualquer dos casos há sempre mais X-Men do que metafísica.

 

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