Decisão do PSD deixa “o caminho mais difícil” para ganhar Lisboa

João Gonçalves Pereira, porta-voz da campanha de Assunção Cristas e líder da distrital de Lisboa do CDS responsabiliza o PSD por não haver coligação na capital. E admite que, sem aliança, é "difícil" o PS perder a câmara.

Foto
Os lisboetas têm de perceber [que] com Medina, pelo menos até 2020, vão ter obras Enric Vives-Rubio

Com 39 anos, o vereador do CDS em Lisboa fala sobre as negociações entre PSD e CDS na capital e admite que o ex-presidente da Câmara de Lisboa Carmona Rodrigues seria um "grande candidato" à Assembleia Municipal.

O que é que falhou para não haver coligação?
Eu diria que não falhou. Houve uma falta de disponibilidade e de interesse por parte do PSD em criar um projecto comum com o CDS.

Como sentiu essa falta de vontade ou de interesse?
Se não há coligação entre os dois partidos não é por falta de disponibilidade e de vontade do CDS. O CDS, desde a primeira hora, ainda antes da drª. Assunção Cristas ter anunciado a sua candidatura a Lisboa, teve uma conversa com dr. Pedro Passos Coelho. Uma conversa reservada em que [Cristas] disse que tinha a intenção de avançar para Lisboa. Desde essa primeira conversa até à última declaração de Passos Coelho o CDS esteve disponível para dialogar. Portanto, não foi por falta de disponibilidade do CDS que não houve coligação. Eu diria que os partidos deviam responder aos anseios do seu eleitorado, neste caso estamos a falar no eleitorado de centro-direita. E sentia-se muito nas ruas uma vontade, até expressa numa sondagem que saiu recentemente num jornal, que houvesse uma coligação à direita encabeçada pela drª. Assunção Cristas. O eleitorado reconhece nela essa capacidade de liderança. Os partidos não devem ser indiferentes a isso.

O PSD queixa-se que o CDS foi muito exigente na elaboração das listas…
Tem havido uma diferença entre o PSD e o CDS neste processo. O CDS falou sempre em on e o PSD falou sempre em off. Aquilo que eu li e vi sobre presumíveis propostas não faz sentido nenhum. Por uma razão: toda a gente sabe que quando há uma conversa para uma coligação entre dois partidos parte-se de uma base, e ainda por cima nós tínhamos uma base que era a de 2013, e só a partir dessa base poderia ser construído o projecto comum. Houve disponibilidade da parte do CDS e o PSD podia ter esperado, da parte do CDS, equilíbrio e bom senso. Ao que li e vi das propostas faltava-lhe o bom senso e o equilíbrio.

Fazia sentido para o CDS ter o candidato a presidente e o vice-presidente da câmara?
Não há candidato a vice-presidente. O vice-presidente da câmara é uma escolha do presidente, não tem de ser o número dois, três, quatro ou cinco. Essa seria uma não-questão. Não se chegou sequer a essa fase, essa questão não se põe.

Não se colocou a questão das listas paritárias?
Eu diria, se me permite a expressão, que é uma tontice. Seria uma tontice o CDS exigir 50/50. Não faz sentido. A base seria sempre o acordo de 2013. Claro que teria de haver algumas afinações, mas nunca se passaria para uma coisa meio, meio.

Qual era a base de 2013?
Em 2013 o primeiro lugar do CDS foi o quarto [na lista] e o segundo lugar foi o oitavo. Mas agora é virar a página. O PSD não esteve disponível para esta solução para a cidade de Lisboa, isto torna o caminho mais difícil para o centro-direita para ganhar a câmara, mas o CDS está com a sua presidente com ambição máxima.

O centro-direita perdeu a oportunidade de tirar a câmara ao PS?
Não acho que esteja completamente excluída, mas torna o caminho mais difícil.

O líder do PSD sugere que não há coligação porque Cristas avançou sem esperar pelo PSD. Como é que vê esta perspectiva?
Assunção Cristas falou com Pedro Passos Coelho antes de anunciar publicamente que era candidata à Câmara de Lisboa. Não compreendo essas declarações.

É melhor para Cristas concorrer sozinha do que ter obrigação de ganhar a câmara?
Penso que Assunção Cristas, em coligação, não teria essa obrigação. Evidentemente que a ambição era ganhar, estando ela nas sondagens dos partidos do PSD e PS - e eu pude ver algumas delas - como a candidata mais bem colocada. Nesse sentido, reunia as melhores condições de ganhar a câmara de Lisboa. Mas nem internamente nem externamente lhe iriam pedir a cabeça se não o fizesse.

Foi dada alguma justificação a si pessoalmente por é que não houve coligação?
Depois da declaração do dr. Pedro Passos Coelho tive uma conversa com o presidente da distrital do PSD de Lisboa. E devo dizer a esse respeito que entre mim e o dr. Miguel Pinto Luz não há jogos escondidos. Diria que a relação que tem existido entre as duas distritais tem sido de um respeito e de uma lisura que em nada está beliscada com este processo.

Qual é que foi a sua percepção sobre a justificação do PSD?
Não tem de haver justificações. Há decisões dos partidos que temos de respeitar. Houve uma comunicação por parte da presidente do CDS ao líder do PSD no calendário que entendeu fazê-lo. O PSD tem outro calendário e tem outras decisões, num quadro de liberdade que é também de responsabilidade.

É possível haver coligações com o PSD nas juntas de freguesia?
Essa questão não está em cima da mesa. A haver condições para um projecto comum é uma coisa, não havendo condições para esse projecto comum cada um segue o seu caminho.

Assunção Cristas pode fazer melhor resultado do que Paulo Portas em 2001: 7,5%?
Acredito que sim. Temos a ambição de ter um grande resultado em Lisboa. O CDS nem tem feito sondagens. A nossa sondagem é a rua, as palavras de incentivo. Ainda agora, este fim-de-semana, estivemos em Alvalade, onde a receptividade foi muito grande. Vamos estar esta semana em bairros sociais que foram completamente abandonados por este executivo.

A ambição do CDS pode chegar aos dois dígitos?
Nós não estamos muito preocupados em estabelecer metas. Estamos preocupados em ouvir Lisboa. 

E haverá condições para uma coligação com o PSD após as eleições?
O nosso parceiro natural é o PSD. Tem sido o nosso aliado ao longo dos últimos anos e temos uma excelente relação. Mas, da parte do CDS, a disponibilidade mantém-se hoje como se manterá no dia a seguir às eleições no quadro do relacionamento com o PSD.

Mas até agora PSD e CDS não têm partilhado críticas à gestão de Medina, porquê?
Não sei. Cada um faz o seu caminho. Fiz um pequeno trabalho de casa. No mandato passado a oposição teve 37 iniciativas no seu todo. Neste mandato – e ainda não terminou – o CDS teve 77. Destas, o CDS tem uma taxa de aprovação de 54%. Aquela ideia de que existe que o CDS está na oposição na câmara e está do contra não é verdade. Em cada ano há 800 ou 900 propostas em reunião de câmara. Cerca de 70% das propostas socialistas têm sido viabilizadas pelo CDS. Ainda esta semana vou apresentar três propostas, uma sobre bairros sociais.

Carmona seria um bom candidato à Assembleia Municipal?
Evidentemente que seria um grande candidato à Assembleia Municipal. Agora, há tempos próprios para se tomar decisões. O CDS, e eu, tem uma grande estima pelo professor Carmona Rodrigues, que tem trazido e criado valor nesta candidatura. É alguém que eu diria que é um dos nossos. É um independente mas é um dos nossos. Acredita na Assunção e no projecto, reconhece o trabalho feito pelo CDS nos últimos anos. Quando se anda com ele pela rua percebe-se o carinho que os lisboetas têm por ele.

Criticou o excesso de obras em Lisboa, mas isso não pode ter um efeito do tipo túnel de Santana Lopes, que foi polémico e agora é incontestado?
Não faria analogia com o túnel do Santana porque foi muito polémico, mas agora ninguém contesta. Eu faria a analogia com o que aconteceu na rotunda do Marquês de Pombal e com a Avenida da Liberdade. Todas aquelas alterações de trânsito, as obras e o dinheiro ali gasto, pergunto se algum lisboeta viu alguma alteração naquilo. Outra coisa que deve ser desmistificada: o CDS não foi contra as obras. Foi contra algumas obras, a falta de planeamento e o fazer todas as obras ao mesmo tempo. Este desrespeito pelos lisboetas, por quem vive na cidade, que têm vivido um inferno enfiados no carro, demorando o dobro e o triplo do tempo em percursos no seu dia-a-dia, podia ter sido evitado. Há obras com as quais o CDS concorda – como a de uma praça em cada bairro, por exemplo – e há outras em que é muito crítico. Há uma coisa que os lisboetas têm de perceber. Com Fernando Medina, pelo menos até 2020, vão ter obras em Lisboa. Haverá a segunda circular, há a praça de Espanha e Sete Rios. São obras que têm impacto em Lisboa e eu diria que algumas delas serão desnecessárias. A prioridade devia ser alocar este dinheiro em benefício da população nomeadamente em habitação social. Por exemplo, a situação que existe no Bairro da Cruz Vermelha nós vamos demonstrar que é replicável em vários bairros.

Há ou não excesso de turistas em Lisboa?
Temos de encontrar um equilíbrio. Não podemos andar a queixar-nos de que não havia turistas em Lisboa e de repente, quando vêm, dizer que estão a mais. Agora, a cidade não pode ser indiferente aos fluxos turísticos. É um sector económico importantíssimo em Lisboa e a nível nacional. Qualquer mexida, qualquer apontamento, tem de ser muito bem ponderado.

Medina diz que não sabe o que é isso de turistas a mais. Há aqui uma certa convergência….
Há convergência nesse sentido. Coisa diferente é a câmara lavar as mãos e deixar as coisas avançar sem qualquer cuidado. Outra coisa é olhar e perceber que problemas é que há e como é que os lisboetas também podem beneficiar. Há zonas que têm muita pressão turística.

O presidente diz que é descabido regular o alojamento local. Tem havido declarações suas no mesmo sentido…
Acima de tudo deve haver prudência e consenso político. Aí, a Fernando Medina, falta-lhe disponibilidade. Não nas reuniões de câmara, mas chamar as forças políticas e concertar em privado.

Não considera que seja um conciliador como António Costa?
Fernando Medina de conciliador tem muito pouco. Tem uma agenda própria, segue-a teimosamente, com uma arrogância de uma maioria de que dispõe e mas que não foi ele que conquistou. E não tem feito consensos.

Surgiu um documento assinado por associações e personalidades que diz que morar em Lisboa é um privilégio de poucos. Concorda?
É verdade. Um dos desafios da autarquia é encontrar soluções para as assimetrias sociais na cidade. Não quero uma cidade do muito rico e do muito pobre. Hoje em dia, um agregado familiar para concorrer a uma habitação social não tem de estar no limiar da pobreza, tem de estar na pobreza. A classe média, existindo o aumento do preço da habitação, tem sido empurrada para a periferia da cidade ou mesmo para fora da cidade. Um presidente e uma candidatura responsável deve encontrar mecanismos para trazer essa classe média e esses jovens para a cidade. 

Concorda com a deslocalização dos voos low cost para o Montijo?
É uma matéria que ainda não está decidida. Para já, ainda não me queria pronunciar sem conhecer o dossier. Agora, o esgotamento da Portela é por demais evidente. Há um compromisso que foi assumido na concessão da ANA em que no caso do esgotamento do aeroporto de Lisboa haveria lugar à construção de um novo aeroporto. Não sei se a solução do Montijo será suficiente. Não sei se não seria de avançar para a construção de um novo aeroporto.  

Sugerir correcção
Ler 1 comentários