A praga dos drones

Clones, drones, gigantones: a procissão humana cada vez vai mais bizarra.

Já não se pode ir à praia sem ouvir o zumbido. Já não se pode olhar para a areia sem ver as sombras deselegantes a arruinar os desenhos das asas das gaivotas. São piores que os mosquitos: é a praga dos drones.

Tenho amigos em São Francisco que vão ao jardim esperar a chegada do drone que lhes traz a marijuana. Não acreditei até ir ver ao trees.delivery. Depois não acreditei que usassem a Cavalgada das Valquírias, referindo o Apocalypse Now. Mas usam. E referem.

Como se não bastassem já as maneiras em que a nossa privacidade é devassada, cada vez se oferecem drones mais avançados e económicos. É deprimente verificar a facilidade e o baixo custo das bugigangas de espionagem. Faz parte do mal maior de tornar os mails e as chamadas e mensagens de telemóvel cada vez mais baratas. As câmaras digitais encorajam as filmagens permanentes. Já ninguém acredita naquelas imagens fatelas a preto e branco com que gravam as matrículas dos carros. Já falta pouco para ter tudo a cores e a ultra HD por cerca de um cêntimo por 24 horas.

Estas pechinhas incitam o pessoal a comunicar e a espiar a eito, descobrindo o que ganhariam em não saber. Os drones servem para deixar registos pormenorizados do tédio que, mal são vistos, destroem qualquer fascínio pelas paisagens que resumem.

Clones, drones, gigantones: a procissão humana cada vez vai mais bizarra. A supervisão sistemática das belezas naturais torna-as monótonas. Onde antes havia pasmo - e segredo e excitação em lá chegar - sobram apenas desktop wallpapers.

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