As cinco crónicas mais vistas de 2016

Uma mudança de vida aos 40 tem contornos de “blockbuster”, tal como a discriminação de grávidas e as escolhas polémicas de Joana Vasconcelos em situação de fuga. Na lista das crónicas do P3 mais vistas de 2016 há ainda cliques para o trabalho jovem precário e a saudade de outros natais

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Quando se muda de vida aos 40 Na crónica que mais de 226.000 pessoas viram, Cristina Nobre Soares não tem dúvidas: “quando se muda de vida aos quarenta, a coisa pia mais fino”, “a viagem é cá dentro”, um “caminho de não retorno”. “Os outros tentam achar piada. Mas não acham. Tentam compreender. Mas nem sempre conseguem. Dizem, boa sorte, pá, mas vê lá”, escreveu a copywriter no início de Maio. Mudar à entrada da quarta década de vida não permite voltar a casa — “porque a casa onde morávamos afinal era uma coisa postiça”. “Os amigos têm de conhecer uma pessoa nova, mas com o mesmo nome e a mesma cara. (…) Dizem-nos, estás diferente, pá. E nós olhamos para eles, e respondemos com alívio, não, pá, sabes. Agora, finalmente, é que estou igual.”

“Experimenta engravidar e verás o que te acontece” “Esta história não é singular. Num momento ou noutro, todos já ouvimos algo semelhante”, assegura Nelson Nunes num texto sobre a discriminação laboral de mulheres grávidas. O tema tocou a muitos — mais de 76.600 só no P3. “Como se não bastassem as limitações orçamentais, eis outro problema gigantesco, o de ter um elemento totalmente externo ao casal que determina quando e como se pode ter um filho.” A gravidez, ou apenas a sua possibilidade, “para além da instabilidade pessoal e no que à saúde diz respeito, passa a acarretar um ouro temor, o de se perder a minúscula estabilidade laboral e financeira que os casais contemporâneos já ostentam”, escreve o escritor disfarçado de jornalista. “A geração que nasceu nos anos 80 está hoje agrilhoada a uma realidade que a transtorna a toda a hora.”

Francamente, Joana Vasconcelos! O vídeo em que Joana Vasconcelos partilha o que levaria numa mochila caso fosse refugiada gerou polémica nas redes sociais. A campanha “E se fosse eu?” — pensada para “sensibilizar a sociedade portuguesa para as condições em que refugiados da Síria, do Iraque e de outros países assolados pela guerra se encontram” — ganhou outra dimensão com as escolhas da artista portuguesa. E Mário Barros não deixou passar: “Infelizmente, Joana Vasconcelos, algumas tolices deviam ficar fechadas no bule de chá no Portugal dos Pequenitos. Porque é de pequenez que aqui se trata”. O assessor de comunicação acusa Joana Vasconcelos de abordar o tema sério “como quem está entretido a fazer cruzinhas num questionário de Verão”. “Não estávamos à espera que Joana Vasconcelos escolhesse um fato ‘kevlar’ ou um detector de minas. Mas... um caderno para fazer desenhos, os lápis, o iPad para poder recolher informação e fotografias, os auscultadores, os óculos de sol (???) e ‘todas as minhas [dela] jóias portuguesas’?” Francamente, Joana Vasconcelos, disse Mário Barros. E se o vídeo teve mais de um milhão de visualizações, a opinião do cronista do P3 chegou a quase 76.000 pessoas.

Jovem, não tens trabalho? A culpa é tua João André Costa quis colocar “os pontos nos ‘is’” na crónica “Jovem, não tens trabalho? A culpa é tua”. “Não quero trabalhar a recibos verdes nem a recibos brancos, não quero trabalhar pelo ordenado mínimo e não quero trabalhar sem contrato”, sublinhou, perante quase 70.000 leitores. Não percebe a surpresa nem a indignação “de quem, alarvemente, vem para a opinião pública proferir as ideias supramencionadas como tábua de salvação para todos os jovens que, como toda a gente sabe, ‘não querem trabalhar’”. “Enquanto esta Europa precarizar o trabalho e vilipendiar os direitos adquiridos através de um sem número de governos com as calças na mão, não contem connosco para trabalhar, pelo menos aqui, onde nos últimos anos a sangria levou à saída de mais de 600 mil pessoas”, rematou o professor emigrado em Inglaterra.

Dificilmente voltarei a gostar do Natal O último lugar deste top 5 das crónicas mais lidas é ocupada por um texto sobre os natais passados de Marco Gil. “Eram dias felizes, a gelatina da minha tia era um brilho nos olhos de cada um e costumávamos terminar os serões com uma ‘cartada’. E eu gostava verdadeiramente deste Natal que me criava ansiedade na véspera e saudade na partida”, escreve o contador de histórias. A nostalgia natalícia é comum a muitos leitores (cerca de 64.000), que também já não gostam da época como gostaram em crianças. “Já nada é como era antes. Não gosto mesmo deste Natal, onde a tradição perdeu para a vulgaridade”, termina. “Até já se perdeu a piada de se receber aquele par de meias num embrulho maior que elas.”

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