Um novo Archie Bunker? Febre dos remakes chega a Uma Família às Direitas

E também a Maude e The Jeffersons, se for adiante o plano do seu criador, Norman Lear, e da Sony. O plano é pôr estrelas actuais nas séries clássicas.

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O genro de origem polaca era um “cabeça de abóbora”, a presença de negros gerava incómodo que se transformava em piada, a sua misoginia era motivo de riso. Archie Bunker era a personificação do preconceito e era suposto rirmo-nos dele e não com ele. Essa era a genialidade de Uma Família às Direitas, a comédia criada por Norman Lear e que atravessou toda a década de 1970 e os anos 1980 portugueses. Agora, fala-se do seu regresso na era Trump e da televisão dos remakes e das miniséries.

Norman Lear, que tem estado no centro das atenções mediáticas nas últimas semanas, tem 94 anos e um comentário sobre quase tudo na actualidade – no Verão, garantiu por exemplo que Archie Bunker, o patriarca proletário de Uma família às direitas, não votaria em Donald Trump. Uma das suas séries clássicas, One Day at a Time, foi já “reimaginada” para a actualidade sob a forma de uma sitcom produzida para o Netflix que se estreia a 6 de Janeiro com Rita Moreno num dos principais papéis.

Mas One Day at a Time, com a sua importância temática de então e de agora, centrada numa família latina numa América que tanto falou dessa comunidade a pretexto das eleições presidenciais, não tem a força histórica nem a relevância pop de All in the Family (ou, em português, Uma Família às Direitas). Título fundamental da CBS na era Nixon, a comédia abordava temas quentes que iam desde os sindicatos e das tensões raciais, à menopausa ou à homofobia. Tal como Maude (também exibida em Portugal) e The Jeffersons, dois spin-offs de Uma Família às Direitas, atacariam de frente temas como o aborto ou a condição afro-americana nos EUA.

Agora, a Sony e Lear estão a estudar a recriação dessas três séries, e também de Good Times, por seu turno um spin-off de Maude, protagonizado por Bea Arthur. A ideia é ter apenas alguns dos episódios mais relevantes das séries habitados por actores contemporâneos e fazer uma reencenação quase de cariz teatral, escreveu a Variety na sexta-feira. “Há conversações sobre fazer algumas das séries originais, refazê-las com as estrelas de hoje”, disse Norman Lear à revista de Los Angeles. “Há a possibilidade de fazermos Uma Família às Direitas, Maude, The Jeffersons e Good Times”.

De acordo com a Variety, os novos episódios seriam compilados num formato que é outra tendência actual do sector – as “antologias”, neste caso miniséries de cerca de seis episódios. “Estamos a explorar” a ideia, confirmou por seu turno o vice-presidente de desenvolvimento de comédia da Sony, admitindo que “é complicado” perceber exactamente como se enquadra o projecto em termos de negócio e “o que seria e como poderia funcionar”, mas frisando que é algo que estão a tentar deslindar.

Já em 2014 Lear tinha falado na possibilidade de fazer um reboot de Uma Família às Direitas, mas com uma família latina como protagonista em vez de Archie, Edith, Gloria e Michael, os Bunker e os Stivic. Essa ideia terá caído por terra e dado espaço para a nova série com Rita Moreno. Aos 94 anos, Lear continua no activo e disse há meses à Salon que, de toda a influência que reconhece ter tido no moldar da paisagem televisiva, um dos programas de que mais gosta é South Park – cujos criadores, Matt Stone e Trey Parker admitem por seu turno que uma das suas mais conhecidas personagens, Cartman, é inspirada em Archie Bunker.

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