Os terríveis três anos: tem de ser assim?

As birras, expressão da dificuldade da criança em lidar com a frustração, marcam especialmente o seu desenvolvimento entre os 18 meses e os três anos. Há estratégias para tornar os momentos menos difíceis... para todos.

A idade à volta dos três anos consegue ser tão fascinante quanto desconcertante. A criança tem maior autonomia, desloca-se sozinha, fala e comunica melhor, questiona e quer perceber o que a rodeia.

Ao mesmo tempo que demonstra e tenta a sua vontade, confronta-se com o que não consegue ou não pode fazer. Quando se esgota a sua capacidade de lidar com a frustração, manifesta-se com uma birra.

As birras fazem parte do desenvolvimento normal, surgindo entre os 18 meses e os três anos. A intensidade e frequência quase sempre resultam da interacção entre o temperamento da criança e a resposta dos pais no momento da birra e na forma como a ajudam a lidar com as emoções fortes e a frustração.

Para atravessar esta fase com mais tranquilidade, os pais têm que compreender esta dinâmica de “balança”, ajustar as suas expectativas e perceber as oportunidades de intervir.  

Quando tendem a ocorrer as birras?

Quando a criança se frustra por não conseguir fazer algo, é contrariada, ou não consegue expressar-se.

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Joaquim Guerreiro

São mais frequentes, em situações ou alturas do dia em que a criança está cansada, com sono ou com fome.

Muitas vezes é possível antecipar os sinais de que a birra é eminente e, apesar de nem sempre se conseguir evitar, existem algumas estratégias que podem ajudar.

Que opções ajudam a evitá-las?

É melhor ficar curioso, em vez de furioso. Perceba quando a birra ocorre, antecipe e redirecione antes de perder o controlo.

Evite programas sociais longos. Se tiver que o fazer, explique à criança o que a espera e deixe-a escolher um brinquedo de conforto.

Ofereça alternativas viáveis e deixe a criança participar na escolha (por exemplo, se tem de arrumar os carros, deixe-a decidir quais quer arrumar primeiro).

Não prometa para depois não cumprir. É preferível haver uma consequência simples. Não faz sentido dizer que não vai ter prendas de Natal, que obviamente vai ter.

Dê segurança à criança, estabelecendo regras claras do que espera, adequadas à idade e à capacidade de compreensão. Nas alturas críticas como o final do dia, fomente rotinas e mantenha-as – se a criança está confortável e sabe o que a espera, comporta-se melhor.

Seja consistente na aceitação e nas consequências do comportamento. Não mude de ideias, umas vezes aceitando o comportamento e noutras repreendendo-o. Deve haver coerência entre os pais e demais cuidadores.

Por vezes a resposta tem que ser “sim”. Se a criança está sempre a ouvir “não” vai sentir-se frustrada. Escolha as batalhas que vale a pena ter!

Dê atenção ao bom comportamento da criança. Elogie quando se porta de forma adequada ou se esforça para se controlar.

E se elas surgem, o que fazer?

Mostre compreensão e empatia, mantendo a regra firme.

Distraia a criança do foco da birra, chamando a atenção para outra coisa, uma brincadeira de que ela goste, por exemplo.

Ignore a criança. Não olhe para ela, não lhe fale (ela não vai ouvir), contenha-a apenas se descontrolada e se se puder magoar.

Critique o comportamento e não a criança (explique que gosta sempre dela, mas não gostou da atitude) e avise das consequências, mas sempre de forma clara e controlada.

Se a birra ocorrer fora de casa, tente manter a calma e usar as mesmas estratégias. Se não resultar, abandone o local.

No retorno à calma, incentive a criança a verbalizar o que sentiu e perceber o que se passou. A birra é também uma oportunidade de aprendizagem.

Com o crescimento, a criança tem maior capacidade para se expressar e ganha competências para lidar com a frustração, sendo expectável que as birras vão diminuindo.

Se os pais são permissivos ou não são coerentes na gestão das birras, é mais provável que a criança recorra a esta estratégia quando se sente frustrada, e o faça com maior intensidade, frequência e para lá da idade esperada. Se as birras aumentam, se tornam mais descontroladas e acontecem nos vários contextos, “por tudo e por nada”, os pais devem considerar procurar ajuda.

Como pais, ceder algumas vezes ou não responder sempre da melhor forma é normal. O importante é que, dentro do possível, sejam consistentes e coerentes entre si na educação dos seus filhos, pensando sempre que aprender a viver com limites e a gerir emoções são competências essenciais para a vida adulta.

Psicóloga clínica; Pediatra; Técnica superior de educação especial e reabilitação/ CADin

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