Jon Stewart: “A América é uma anomalia no mundo e a candidatura de Trump animou essa ideia”

A candidatura do futuro Presidente veio dar força à ideia de “que uma democracia multicultural é impossível – mas é isso que a América é!”, defendeu o comediante.

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Jon Stewart no seu Rally To Restore Sanity and/or Fear em 2010 Olivier Douliery/Abaca Press/MCT

Quando Jon Stewart abandonou o seu posto à frente do Daily Show, um pequeno grande programa de comédia sobre a actualidade de um canal por subscrição, estava preparado e até ansioso por não viver mais uma campanha eleitoral americana. Mas acabou por fazer algumas aparições nos últimos meses, recuperando em parte a sua persona televisiva que deu corpo à indignação de uma parte do seu país. Agora, comenta a eleição de Donald Trump. Não foi uma grande surpresa, disse.

Numa entrevista com o jornalista e conversador veterano Charlie Rose, para o programa de notícias matinais This Morning, da CBS, Stewart foi questionado quanto ao resultado das presidenciais norte-americanas. O seu livro, uma história oral sobre os seus 16 anos à frente do Daily Show, serviu de pretexto para ver Stewart, uma das principais vozes televisivas (com alcance internacional) de crítica às notícias e aos seus protagonistas, sobretudo políticos reconhecer que “Donald Trump é uma reacção não só aos Democratas, mas aos Republicanos. Ele não é um republicano – ele é uma repudiação do republicanismo”, disse, falando sobre os dois principais partidos dos EUA. “Mas eles [os membros do Partido Republicano] vão colher os benefícios da sua vitória”.

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Sobre o discurso e o clima que se viveu durante a longa campanha, Stewart lamentou os seus efeitos e o resultado. “A América é uma anomalia no mundo e a candidatura de Trump animou essa ideia, de que uma democracia multicultural é impossível – mas é isso que a América é!”. O apresentador agora retirado, que fez aparições recentes no programa do colega e amigo Stephen Colbert, remata que “essa é a luta que travamos contra nós mesmos e entre nós, porque a América não é natural”, lembrou. “O natural é o tribal”, a divisão.

Porém, lembrou que apesar de “Donald Trump se ter desqualificado em muitos aspectos”, não se pode definir aqueles que votaram no Presidente incumbente “pelo pior da sua retórica”, porque nem todos “têm medo de mexicanos, não têm medo de muçulmanos, não têm medo de negros. Têm medo dos prémios dos seus seguros”, exemplificou. Considerar “toda a gente que votou em Trump como um monólito, que é racista” é, defendeu Stewart, uma “hipocrisia que também é real no nosso país”.   

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