Tiago Maia brinda à grande lição de vida no reencontro com Beto

Antigo internacional pelas selecções jovens, guarda-redes do Praiense espreita oportunidade de voltar aos grandes palcos, em Alvalade, para, humildemente, corrigir os erros do passado.

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Miguel Manso
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Titular na baliza do Praiense - líder invicto da Série F, no Campeonato de Portugal - Tiago Maia não deixa que a Liga Europa conquistada no FC Porto, há seis anos, ou o orgulho de ter sido moldado em “berço de ouro”, no Dragão e nas selecções, se sobreponha à humildade de que não abdica em busca da afirmação a que poderá finalmente brindar na Taça de Portugal, em Alvalade, onde mora um dos seus exemplos de vida.

Apoiando-se no trajecto de Beto, antigo colega no FC Porto e que agora enfrentará na prova "rainha", o guarda-redes mais novo da formação açoriana pode descobrir na Taça a oportunidade que lhe tem escapado desde que avançou para a emancipação. Daí aguardar com ansiedade pelas escolhas de Francisco Agatão para o jogo da quarta eliminatória, dizendo-se totalmente preparado, seja para defender as aspirações do Praiense ou para apoiar por fora, incondicionalmente, caso a escolha recaia num companheiro.

“Jogar em Alvalade é sempre especial, não adianta negar. Mas esta equipa dá sempre tudo, independentemente do adversário. A diferença é que neste jogo há muita gente a ver”, refere ao PÚBLICO, sem certezas quanto ao "onze" titular. “O treinador só revela a equipa pouco antes do jogo. Podemos ter a percepção, durante a semana, se jogamos ou não. Mas ao certo ninguém sabe. Por isso temos que estar sempre preparados, tanto para entrar como para ficar no banco”, esclarece, sem esconder o desejo de ser o escolhido.

“Sou novo e acredito nas minhas qualidades e na capacidade de trabalho. Nunca virei a cara à luta, mesmo nos momentos mais complicados, como quando fiquei sem clube [aos 20 anos]", revela, sem subterfúgios ou lamúrias em relação ao passado.

“É nas horas difíceis que percebemos do que somos capazes e nos superamos. Por isso, estou confiante em voltar aos grandes palcos. Agora as coisas estão a correr bem e acredito que posso refazer o meu caminho, mesmo sabendo, por experiência, que nem sempre tudo corre como nem quando desejamos”, reconhece.

Grande admiração por Beto

Alvalade pode, se tudo se conjugar, funcionar como trampolim para o sonho interrompido de um guarda-redes que inscreveu o nome na lista de vencedores da Liga Europa, em 2010-11, depois de frequentar as melhores selecções nacionais jovens, com participações no Campeonato da Europa sub-19, o França 2010, e no Mundial sub-20 na Colômbia, um ano depois.

“É sem dúvida uma oportunidade para dar nas vistas. Esta equipa tem qualidade, disso não tenham dúvidas, mas como é natural não somos favoritos. O Sporting tem outros argumentos e condições, tanto individual como colectivamente. Mas o jogo começa do zero e o Praiense vai dar tudo”, rebate Tiago Maia, preparado para o mediatismo que envolve estes jogos e para o reencontro com o agora “leão” Beto, com quem privou no Estádio do Dragão, sob o comando de André Villas-Boas.

“Apesar de nunca mais ter tido contacto com o Beto, posso dizer que desde os tempos de júnior que tenho uma grande admiração por ele. Aliás, identifico-me muito com ele em vários aspectos. Fisicamente somos parecidos. Não sendo muito altos para guarda-redes, compensamos com agilidade, rapidez e poder de elevação”, justifica, juntando duas opiniões avalizadas a esta comparação.

“Em Olhão, o Nuno Diogo dizia-me muitas vezes que eu lhe lembrava o Beto em tudo. O Hugo Oliveira, treinador de guarda-redes, dizia o mesmo”, refere, admitindo que, também pela “liderança e comunicação", Beto é uma referência e "uma lição de vida". "Cumpriu a formação num grande clube e teve que sair para construir uma carreira degrau a degrau. Não esteve sempre no topo. Mesmo no FC Porto não era primeira opção. Por isso, afirmar-se e conquistar os títulos de campeão na Roménia e vencer a Liga Europa três anos seguidos no Sevilha, onde deixou a sua marca, é notável. Nunca desistiu e eu também não vou deixar de lutar”, sublinha Tiago, preparado para pegar no testemunho, sem confundir respeito e admiração com vassalagem.

“Mesmo quando jogava no FC Porto, via todos os jogadores apenas como companheiros e não como ídolos”, explica, aproveitando para lembrar que tem mais amigos em Alvalade, como Esgaio e Paulo Oliveira, dos tempos das selecções, memórias que colocam o presente e o futuro em perspectiva.

Promessas por cumprir

“Este pode ser um regresso aos grandes palcos. Tenho tido altos e baixos. Confiei demasiado em algumas pessoas, mas também não estou isento de culpas, pois escolhi seguir as escolhas de outros. Já estive uma época sem clube por causa da ilusão de uma transferência para Angola, que precipitou a saída do Santa Clara. A minha mãe é angolana e decidi arriscar, mas a burocracia trocou-me as voltas”, lamenta, esperando rectificar todos os equívocos neste regresso ao ponto de partida, nos Açores.

Depois do choque, a longa viagem de Espinho a Olhão, rumo a uma Liga profissional. Sempre com o mar no horizonte, Tiago Maia foi remando contra a corrente, em especial no Algarve, onde voltou a confiar e a pagar um preço elevado.

“Não estava a jogar com a regularidade que pretendia no Olhanense e rescindi, com a garantia de assinar por outro clube da II Liga. Mais uma promessa não cumprida. Quando encerrou o período de transferências percebi que tinha de fazer algo. Comecei a treinar-me sozinho, num sintético perto de casa, em Gondomar. O meu antigo treinador de guarda-redes no FC Porto, José Alves, que me conhece desde miúdo, disponibilizou-se a 100% e ajudou-me bastante, pois sempre acreditou em mim e isso é crucial nestas alturas”, reconhece Tiago, que antes de voltar aos Açores ainda deu uma segunda oportunidade ao Algarve, no Louletano.

“O projecto era aliciante, mas não houve acordo porque o clube apresentou uma proposta muito inferior à que tinha sido combinada. Ainda tentei conciliar o futebol com outra actividade profissional, mas optei por voltar aos Açores e aceitar o convite do Praiense. O mister Agatão já me tinha contactado quando esteve no Operário e agora tudo se conjugou. Pesados os prós e os contras, senti que tinha muito mais a ganhar e já concluí que foi uma decisão acertada. Mesmo estando longe, sinto-me verdadeiramente em casa”.

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