Müller diz que foi mal interpretado e não quis criticar equipas mais fracas

Jogador alemão respondeu à carta do responsável de comunicação de São Marino, que criticou as declarações do médio depois do encontro entre as duas selecções.

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O jogador foi criticado pelas suas declarações no final do jogo, que desvalorizavam um encontro com a selecção mais fraca DR

O futebolista alemão Thomas Müller ficou surpreendido com a resposta do assessor de imprensa da selecção de São Marino, Alan Gasperoni, que considerou arrogante e desrespeitoso o comentário de Müller ao encontro das duas selecções e diz que as suas declarações foram mal interpretadas.

A polémica começou quando, após o jogo de apuramento para o Mundial 2018 entre a Alemanha e São Marino, que os alemães venceram por 8-0, Müller disse não compreender os jogos com equipas nacionais “inferiores” – que, disse, não têm “nada a ver com futebol profissional” e são “um risco desnecessário” para os jogadores da selecção alemã.

Dois dias depois do encontro, a 11 de Novembro, o assessor de imprensa da selecção de São Marino, Alan Gasperoni, dirigiu-se a Thomas Müller através de uma carta aberta publicada no Facebook. Em dez argumentos, Gasperoni responde a Müller, ironizando que nem mesmo contra uma equipa considerada “fraca” o jogador alemão conseguiu marcar um golo. Entre recados e notas, a carta escrita em italiano foi partilhada no Facebook mais de 34 mil vezes.

Caríssimo Thomas Müller,

Tens razão. Os jogos como o de noite de sexta-feira não são nada. Para ti. Por um lado, caro Thomas, não precisas de vir a São Marino para quase nada num fim-de-semana que, sem a Bundesliga, podias passar com a tua mulher no sofá da vossa casa de luxo ou, quem sabe, podias ter participado em alguns eventos organizados pelos teus patrocinadores para arrecadar vários milhares de euros. Acredito em ti, mas permite-me deixar-te dez boas razões pelas quais penso que o encontro São Marino-Alemanha foi muito útil; se pudesses pensar sobre isso e dizer-me o que pensas:

  1. Serviu para te mostrar que nem mesmo contra equipas tão pequenas como a nossa tu consegues marcar um golo — e não digas que não ficaste fulo quando Simoncini te impediu de marcar…
  2. Serviu para deixar claros aos teus dirigentes [dá também o recado a Beckenbauer e a Rummenigge] que o futebol não é propriedade deles, mas de todos os que o adoram, entre os quais, gostes ou não, também estamos incluídos;
  3. Serviu para relembrar a centenas de jornalistas, de toda a Europa, que ainda existem pessoas que seguem os seus sonhos e não as vossas regras;
  4. Serviu para confirmar que vocês alemães nunca vão mudar e que a história não vos ensinou que o bullying nem sempre é uma garantia de vitória;
  5. Serviu para mostrar aos 200 rapazes que acompanharam o jogo em São Marino a razão pela qual os seus treinadores lhes pedem sempre para darem o seu melhor. Quem sabe, talvez um dia, todo o seu sacrifício seja recompensado com um jogo contra os campeões do mundo;
  6. Serviu para a vossa Federação (e também para a nossa) angariar dinheiro com os direitos televisivos com o qual, além de te pagar pelo incómodo, podem construir infraestruturas para as crianças do teu país, escolas, tornar os estádios de futebol mais seguros… A nossa Federação, vou contar-te um segredo, está a construir um novo campo de futebol na vila remota de Acquaviva. Tu podias construir isto com seis meses do teu salário, nós vamos fazê-lo com os direitos de 90 minutos de jogo. Nada mau, certo?
  7. Serviu para que um país tão grande como um sector do Estádio Olímpico de Munique apareça na comunicação social por uma boa razão, porque um jogo de futebol é sempre uma boa razão;
  8. Serviu para o teu amigo Gnabry se estrear na selecção e marcar três golos;
  9. Fez alguns habitantes de São Marino um pouco mais felizes, por se lembrarem que temos uma verdadeira selecção nacional;
  10. E serviu para me fazer perceber que, mesmo que tu uses o melhor equipamento Adidas, no fundo, serás sempre um daqueles que usa meias brancas com sandálias.

Com afecto, o teu Alan”

“Fiquei um pouco surpreendido. Não quis dizer nada disso. Fui confrontado com algumas questões, às quais respondi com seriedade e honestidade”, reagiu Müller nesta quarta-feira, em declarações ao canal de televisão alemão ARD.

“As minhas declarações estão relacionadas com a questão do valor desportivo do jogo em São Marino, devido ao risco de contrair lesões. Foram descontextualizadas por alguns meios de comunicação social”, acrescentou na sua conta do Facebook.

Entretanto, também o responsável de comunicação pediu desculpa por ter gozado com os alemães na sua nota, cita a Lusa. Gasperoni afirmou que quer conhecer Müller, no próximo encontro das duas equipas, em Junho de 2017, e acredita que “vai tudo ser resolvido com um aperto de mão” e até podem acabar a beber cerveja juntos em terras alemãs.

A Alemanha lidera o grupo C da fase de qualificação, com 12 pontos, enquanto São Marino está no último lugar do grupo, sem pontos conquistados até agora.

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