Um refugiado, uma solução

Bem sei que o cepticismo existe — na nossa sociedade — em relação às novas culturas e sobretudo em relação aos imigrantes/refugiados, mas com pequenos passos e pequenas palavras cada refugiado pode ser uma solução

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Khalil Ashawi/Reuters

"Tenho 23 anos e fui obrigado a abandonar a minha querida terra, assim como a minha região, porque rebentou uma guerra. Toda a gente quer o poder mas, ao mesmo tempo, ninguém o quer. Lutamos muitas vezes por algo sem substância. Não sei se são interesses, se são negócios, mas perdi a minha família e os meus amigos. Só ainda não perdi a vontade de sonhar. Mas sinto que posso ser útil."

O parágrafo anterior podia ser a nossa história, podia ser a nossa realidade, podia ser a nossa dor. Ainda bem que não temos guerras civis e religiosas no nosso país e que podemos continuar a sonhar. Todavia, existem nos milhares de refugiados pessoas com sonhos e bastante inteligentes que podem ajudar a nosso país a evoluir cultural e demograficamente. Bem sei que o cepticismo existe — na nossa sociedade — em relação às novas culturas e sobretudo em relação aos imigrantes/refugiados, mas com pequenos passos e pequenas palavras cada refugiado pode ser uma solução.

Verifiquei, quer por motivos profissionais quer pessoais, que existe por parte do Alto Comissariado para as Migrações uma vontade enorme em acolher os novos imigrantes e tornar o nosso país um pólo migrante — e que isso possa trazer benefícios culturais, demográficos e económicos para o nosso território. Para as regiões do interior, este programa de "captação" de imigrantes pode ser uma plataforma que contribua para o impulso demográfico de cada concelho. Para o efeito, "basta" capacitar as instituições locais — em cooperação com os órgãos nacionais — de uma visão holística e capacitada onde seja possível implementar estratégias de formação às famílias nas seguinte componentes: na língua e cultura portuguesa; sobre aspectos jurídicos pessoais; sobre empreendedorismo e inovação.

Obviamente que isto não é um plano a curto prazo e necessita ainda de uma forte investida por parte dos órgãos nacionais e europeus em convencer as estruturais locais, incluindo as autarquias, de uma visão positiva e de um plano verdadeiramente acolhedores e inclusivos para o refugiado.

Em suma, o nosso país tem capacidade humana e profissional para saber integrar e para, posteriormente, dotar os refugiados de capacidades que melhorem a região onde estão inseridos. A estratégia será sempre: um refugiado, uma solução. Muitas vezes o problema somos nós.

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