Cartas à Directora

O orçamento dos impostos

Nos preparativos, aperitivos e antevisões para o próximo orçamento de Estado, a palavra-chave parece ser “impostos”. Feitas as reversões e virada a página da austeridade (de certa forma), o crescimento económico já foi fazer companhia a D. Sebastião: há-de aparecer numa manhã de nevoeiro.

A agenda da atualidade é completada com umas bocas e piadas sobre jogos de caçar bichinhos virtuais e anda também a corte muito indignada com a publicação de um livro proibido. Tudo coisas fundamentais para os amanhãs cantarem.

Como o tal dito crescimento não dá sinais de aparecer, a alternativa é colocar a imaginação a trabalhar em termos de receita fiscal, que parece ser um inquestionável e ilimitado direito de saque do Estado sobre tudo o que mexe e mesmo sobre o que está parado. Eu sugiro acrescentar impostos sobre pianos de cauda e portões de garagem elétricos.

Entretanto, para haver crescimento, criação de mais riqueza, é necessário haver confiança e investimento. Quem confia e investe num país onde todos os anos o governo sai à rua para sacar mais e novos impostos?

Carlos J F Sampaio, Esposende

A ironia do PÚBLICO

Sou um apreciador da ironia, na oralidade e na escrita. Não resvalando para o cinismo achincalhante, aquela traz "sal e pimenta" ao texto e, habitualmente, torna-o mais incisivo do que a simples explanação de factos. Foi o caso do PÚBLICO e por duas vezes. A primeira quando, na rubrica "O PÚBLICO ERROU" de 15/9, pede desculpa ao visado (!) e aos leitores dizendo que ao, contrário do que noticiou na véspera com "Os interesses também na Comissão de Transparência", "o deputado socialista Fernando Anastácio apenas desempenha funções dirigentes em cinco empresas e não em oito; nas restantes três cessou funções em 2013" (sic).

A segunda "pérola" vem no "ESCRITO NA PEDRA" da última página do jornal de hoje (17/9) e é a transcrição duma frase lapidar: "Três coisas devem ser feitas por um juíz: ouvir atentamente, considerar sobriamente e decidir imparcialmente". Quem a disse? Pois... Sócrates (470 a.C.-399 a.C.), filósofo da Grécia Antiga. Esse mesmo... 

Fernando Cardoso Rodrigues, Porto

As reservas do PCP

As sérias reservas que o PCP levanta em relação à nova lei do governo PS sobre o sigilo bancário só vêm confirmar que os comunistas estão, desde o inicio, com um pé dentro e outro fora do acordo de esquerda. Esta ambiguidade táctica, além de não ser benéfica para o pais, porque provoca instabilidade na maioria que apoia o governo, tem rendido muito pouco ao PCP em termos eleitorais. O desastre das presidenciais é prova evidente disso, para não falar em legislativas, onde algumas sondagens dão seis por cento aos comunistas, o que convenhamos não é brilhante. O declínio eleitoral do PCP explica-se, com efeito, não só pela sua liderança, que deveria ser renovada, no próximo congresso,  mas também pela falta de clareza estratégica, a que venho aludindo. Seria, sem duvida, mais rentável para o partido e, sobretudo, para o pais que os comunistas estivessem de corpo inteiro no acordo de esquerda.

Simões Ilharco, Lisboa

 

Sugerir correcção
Comentar